[Resenha] Graça e Fúria - Tracy Banghart

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Título: Graça e Fúria #1
Autora: Tracy Banghart
Editora: Seguinte(Cortesia)
Ano: 2018
N° de Páginas: 302
Onde Comprar: Americanas || Submarino

Sinopse: Duas irmãs lutam para mudar o próprio destino no primeiro volume de uma série de fantasia repleta de romance, ação e intrigas políticas. Em Viridia, as mulheres não têm direitos. Em vez de rainhas, os governantes escolhem periodicamente três graças — jovens que viveriam ao seu dispor. Serina Tessaro treinou a vida inteira para se tornar uma graça, mas é Nomi, sua irmã mais nova, quem acaba sendo escolhida pelo herdeiro. Nomi nunca aceitou as regras que lhe eram impostas e aprendeu a ler, apesar de a leitura ser proibida para as mulheres. Seu fascínio por livros a levou a roubar um exemplar da biblioteca real — mas é Serina quem acaba sendo pega com ele nas mãos. Como punição, a garota é enviada a uma ilha que serve de prisão para mulheres rebeldes. Agora, Serina e Nomi estão presas a destinos que nunca desejaram — e farão de tudo para se reencontrar.
Graça e Fúria é uma obra que fala sobre liberdade e união feminina diante a tirania e a retirada de direitos e a constância opressão que normalmente recaem sob as mulheres.
Viridia é um país de favorecidos e oprimidos. Aqui as mulheres não tem vez. Sua existência é decidida pelo governo e principalmente pelos homens. Sua única função é procriar e como se isso já não fosse completamente sufocante, as jovens são colocas em uma "guerra" de beleza para conquistarem o posto de Graça do rei e de seus filhos e é nessa parte que conhecemos nossas duas personagens principais: Nomi e Serina.

"Você nunca vai poder escolher seu próprio trabalho, seu próprio marido ou...qualquer outra coisa. Não é assim que funciona." (pág.10)
Serina e Nomi são irmãs. Elas são as filhas de mais uma família pobre de Viridia e cresceram com destinos diferentes não somente pelas suas personalidades distintas, mas pelos objetivos diferentes que perseguem.
Nomi nunca se conformou com a retirada dos direitos femininos e não aceitou de bom grato a falta de conhecimento e por isso estudou e se alfabetizou com ajuda de seu irmão. Seu desejo é ver a queda da família real e a liberdade das mulheres em plenitude. Ela nunca quis o destino de ser uma graça e viver à mercê dos caprichos dos seus opressores, entretanto sabia que teria que ser aia de sua irmã, caso Serina fosse escolhida como uma das graças do príncipe Malachi, porque de forma alguma deixaria sua irmã sozinha nisso.

"Os ancestrais dele eram o motivo pelo qual as mulheres não tinham permissão de ler. O pai dele era o motivo de Serina estar ali. Ele era o motivo de Nomi estar."(pág.66)
Serina nasceu com uma beleza inquestionável e foi escolhida por sua mãe para ter o propósito de acabar com aquela vida de miséria na qual viviam. A beleza e o espírito domado da jovem conquistariam até o coração mais furioso do planeta. Diferente de Nomi, ela nunca teve a intenção de quebrar o sistema. Sua forma de ajudar o mundo, é dando conforto e paz à sua família e ela conseguiria através de seu papel de graça.

Ambas chegam ao palácio real para o concurso de graças e já começam se desentendendo porque tem visões contrárias sobre o acontecimento, porém Nomi sabe que às vezes, é impossível vencer a opressão "batendo de frente" com seus carrascos e aceita se comportar como deve. Só que ela tem um espírito rebelde e acaba sendo flagrada pelos príncipes de frente a biblioteca real e sendo atrevida em suas respostas ao príncipe Malachi.

"- Vocês devem ser tão fortes quanto esta prisão, tão fortes quando a pedra e o oceano que as cercam. Vocês são concreto e arame farpado. Vocês são feitas de ferro."(pág.84)

Ela sabe que a punição não vai demorar. Nada acontece e ela começa a relaxar, mas no anúncio das jovens escolhidas não é Serina que é chamada. É Nomi. Sua audácia tinha custado tudo que ambas sonhavam. Serina fora condenada a ser sua aia e está de frente com quem causou sua desgraça e Nomi fora punida com severidade e perdera sua tão preciosa "liberdade".

O que já era ruim se torna péssimo quando Serina é presa por engano com um livro que Nomi roubara da biblioteca. Mulheres que leem são destinada à Monte Ruína e nunca se ouviu do retorno de qualquer mulher de lá.

Será que Nomi sobreviverá num lugar na qual sempre detestou e não se preparou para viver? Será que a doce Serina resistirá numa prisão onde as mulheres lutam entre si para sobreviverem? Qual será o destino das mulheres da opressiva Viridia?

"As mulheres de Viridia eram oprimidas por que os homens tinham medo delas."(pág.140)

Nomi é uma personagem extremamente forte e indomável e isso me conquistou de primeira, porque parece com minha postura pessoal. Ela dificilmente seria capaz de aceitar qualquer ato opressiva de forma passiva. Seu único problema - todos tem defeitos - é sua incapacidade de pensar antes de agir. Ela vive em confusão porque não entende que o sistema cai com trabalho conjunto e não com atos de rebeldia desconexos e por isso se vê nessa reflexão quando é forçada a viver como sua irmã se submetera a viver.

Serina despertou sentimentos conflituosos no começo do livro. Como ela era passiva e achava tudo "muito normal" naquela sociedade comecei a desejar que ela sofresse para ver que nada era um conto de fadas. Quando ela é condenada à prisão, sabia que ela entenderia a fúria e a inconformidade de sua irmã.

"[..]Mas meu pai acreditava que toda opressão sempre, sempre seria combatida e superada. E não era o único tentando mudar as coisas." (pág.248)
O príncipe Malachi que é o primogênito do rei é nossa incógnita até o último capítulo da obra, porque ele se apresenta como a "sombra" de seu pai que é um tirano e conservador que permite a opressão contra as mulheres, porém ele se revela inversamente diferentes e vários momentos, o que deixa o leitor confuso e ansioso pela revelação de suas intenções verdadeiras.

O príncipe Asa que acaba se tornando o aliado de Nomi, é engraçado, divertido e com o objetivo de modificar o atual modelo político do país. Suas ações e posturas são inegavelmente retas e aprováveis, o que deixa o coração de Nomi aquecido e apaixonado.

As jogadas da autora se assemelham com a estrutura narrativa da Rainha Vermelha e isso pode incomodar os leitores que já leram as obras de Victoria, só que Tracy tem sua originalidade e foco decidido. Diferente de Victoria que perdeu duzentas páginas de blablabla e não revelou o contexto histórico de sua distopia e confundiu seus leitores optando por dois gêneros - ficção científica e fantasia -, nossa autora opta pela especificação de contexto. Seu foco é a liberdade feminina e por isso todas as personagens femininas ganham destaque e voz nesse livro. A reflexão primordial é: Por que em momentos de crises políticas é a mulher que tem seus direitos questionados e sua liberdade aprisionada?

 "[...] Somos concreto e arame farpado. Somas feitas de ferro. - Serina encarou as mulheres que  a cercavam. - Somos inteligentes e perigosas. Os guardas sabem disso. Sabem que temos o poder de derrubá-los se trabalhamos juntas. Precisamos parar de nos matar e lutar contra eles."
A caminhada de Nomi e Serina conversam diretamente ao público feminino. O crescimento e amadurecimento de Serina em Monte Ruína lhe mostram que a rebeldia de sua irmã era louvável e importante. Ela não estava vivendo. Estava aprisionada na ignorância. Nomi em meio ao luxo e as "cobras" percebe que sua irmã se submeteu àquilo por amo à família e não por gostar. Lhe pergunto quantas de nós não nos submetemos para sermos aceitas socialmente? Quantas de nós não achamos lindo quando mulheres se castigam e oprimem umas as outras para se tornarem "algo desejável", como num concurso de beleza? Será que não punimos umas as outras simplesmente porque formos alienadas à isso? Lhe pergunto: Quando olhas uma mulher, observa primeiramente a beleza ou sua postura? Agora: Faz o mesmo com os homens?
A capa é meu xodó, porque as ilustrações são como imaginei as duas irmãs e os detalhes em dourado tão um toque de realeza a obra. Não há erros gramaticais ou afins. A fonte é agradável e a narração é feita por Nomi e Serina de forma alternada.

Graça e Fúria é sobre o papel da mulher em tempos de crises e golpes.

Nota para a obra:


Comentário(s)
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  1. Oi!
    Adoro a capa desse livro, acho a jogada de colocar uma irmã em casa capa maravilhosa. O enredo parece ser muito bom, gosto muito da ideia de irmãs antagonistas e além disso as opiniões que vejo tem sido tão positivas que só me animam cada vez mais, principalmente pelo papel central que a mulher desempenha na história.
    Beijos!

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  2. Adoro quando as histórias dão destaque para a força da mulher. Ter personagens femininas assim tão distintas é ótimo para termos uma visão de diferentes personagens. Não sei se eu leria o livro por agora, mas com toda essa temática confesso que não irei descartar a chance disso. E eu adoro essa capa!

    www.sonhandoatravesdepalavras.com.br

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  3. Que história magnífica é essa? Fiquei apaixonada principalmente pela edição e saber que a força da mulher é tão valorizada nesse livro, leria principalmente pela temática e tudo que tens nos mostrado na resenha.
    Bjs

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  4. Adorei a sua resenha.
    Adoro histórias com esse tipo de reviravolta e aparências que enganam hahah. Quero conhecer melhor as irmãs *_* e achei essa capa linda

    Sai da Minha Lente

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  5. 'Aqui as mulheres não tem vez. Sua existência é decidida pelo governo e principalmente pelos homens.' tecnicamente, nossa sociedade atual, o que não é decidido pelo governo e a igreja, é decido pelo homem, ainda lutamos pelo direito ao corpo. Bom, a história desse livro é bem legal, achei a capa tosca, mas nem sempre de capa se vive um livro, por sua resenha sei que preciso ler.

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  6. Não conhecia o livro e a capa está linda mesmo. Gostei do contexto do enredo e de a força da mulher está presente.
    Bjs, Rose

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  7. Olá!
    Adorei a capa desse livro e a história parece ser ótima, uma história forte, de luta e uma revolução das mulheres que não aceitam serem subordinadas. Infelizmente estamos ainda assim, só que estamos cainhando para mudar isso. Gostei da premissa, tem muito haver com os dias de hoje. Com toda certeza que leria. ótima resenha!

    beijos!

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  8. Acabei de sair da leitura de Rainha vermelha então eu acho que poderia ficar incomodada com essa semelhança. Ainda assim, gostei bastante de conhecer um pouquinho mais sobre a obra, de fato me parece incrível!

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  9. Oi, tenho esse livro mas ainda não li, acho o contexto de opressão às mulheres um pouco pesado para mim nesse momento e talvez por isso esteja adiando a leitura, mas amei sua resenha e até fiquei mais animada para ler e conhecer essas duas irmãos que se verão em situações que nunca imaginaram.

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  10. Ola!

    Confesso para ti que infelizmente esse livro não me chamou a atenção na época de seu lançamento.

    Adorei a sua resenha, porém, o livro nao faz muito o meu estilo aparentemente e sem contar que ja li muitas coisas ruins sobre ele. Bom saber que você gostou

    Beijos

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  11. Eu não conhecia o livro, mas já amei e quero ler.
    Nenhum história sobre a luta feminina é suficiente, e conforme fui lendo em sua resenha, fui percebendo que a história não é só um "female money", que ela é bem estruturada e não foi feita só para vender, sabe?

    Nomi é meu tipo de garota, forte e determinada, e amei todo o plot em que ela está inserida.


    --
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  12. Olá!
    Quero muito ler este livro também e só leio criticas super positivas. Este lado da história que nos faz refletir sobre a pressão que nós mulheres vivemos para agradar as outras pessoas, me atrai mais ainda.
    Beijos

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  13. Olá tudo bem? não conhecia o livro, sua resenha esta muito boa, adorei sucinta e sincera, entretanto a história não atraiu, porém acredito que para os que gostam do gênero a leitura seria muito válida! bjos

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  14. Oi.

    Capa e história maravilhosa, gosto bastante de histórias de mulheres fortes que são contra o sistema no qual são submetidas, sobre ser o que quiser ser, dica anotada.

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