[Resenha] Tim - Colleen McCullough

11 comentários
Título: Tim
Autora: Colleen McCullough
Editora: Círculo do Livro
Ano: 1974
N° de páginas: 255
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Sinopse:
Artamon, bairro de classe média em Sidnei, Austrália.

Mary Horton, solteirona, na casa dos quarenta. Rica, porém simples e solitária, acredita não necessitar de amigos, tampouco de um amor. Vive bastante satisfeita em seu confortável lar com um amplo jardim e um imponente Bentley estacionado na garagem. Sem contar a casa de praia, que adquiriu com o fruto do seu trabalho e dos investimentos realizados. A literatura e a música ajudam-na a preencher a solidão. Mary não aspira a coisas que não conheceu.

Tim Melville, vinte e cinco anos, operário inexperiente, filho de Ron e Esme Melville, que o receberam como uma dádiva para o seu tardio casamento. Tem o rosto, o corpo e a graça de um deus grego. Embora belíssimo, está longe de possuir um intelecto em harmonia com o físico deslumbrante.

Todavia, Ron e Esme, operários simplórios, pessoas sensatas e sem ambição, o amam pelo que ele é. O casal o preparou para viver segundo as suas possibilidades. Tim é um sujeito insignificante que trabalha na construção, infatigável e bem mais esforçado do que os companheiros. Os dias de trabalho pesado e os fins de semana são passados com o pai num bar; as noites em casa, ao lado da família assistindo à televisão. Para ele, uma vida segura e tranquila.

Tim é tão maravilhoso de se admirar que Mary Horton não consegue acreditar nos próprios olhos ao vê-lo, pela primeira vez, trabalhando na reforma da casa ao lado. A vizinha, pessoa franca e de bom coração, foi quem a alertou tanto para a doçura quanto para as graves limitações do rapaz. Mesmo assim, Mary o contrata para trabalhar como seu jardineiro nos fins de semana e descobre que, usando apenas um pouco de delicadeza, é possível extrair tudo do rapaz. Isso é novo para ela, como também o é a afeição que sente, um tipo de sentimento maternal que destinaria ao filho que nunca teve. Tim também lhe ensina muitas coisas, entre outras a ver o verdadeiro mundo com olhos novos e otimistas.
 

“Há pessoas que levam a metade da vida para despertar.” p.164
Tim é uma obra que trabalha com nossas emoções e nos mostra uma lição de vida e respeito através de uma história de amor entre uma mulher madura e um jovem belo e com uma deficiência mental severa.

A senhora Emily Parker mora num conjunto habitacional na área nobre de Sydney e decidiu em modificar a fachada de seu chalé e dar fim na beleza dos tijolinhos do mesmo e por isso contratou uma equipe de trabalhadores civis para essa mudança. A equipe é bem barulhenta e nada sutil e por isso o silêncio que envolvia aquela localidade e o descanso da srta. Mary Morton foram para bem longe, porém ela tem seu trabalho e por isso só acorda com o barulho e não dorme com o mesmo.

Tim Melville tem vinte e cinco anos e trabalha com a equipe do Sr. Markham e está gostando de ser bem tratado por pelo menos uma pessoa naquela reforma: a Sra. Parker. A senhora detesta como os operários tratam o jovem. Ela sabe que ele tem retardo mental, mas isso não o deixa em condição de ser gozado e ser usado como forma de diversão e por isso quando está por perto sempre tenta ser amável e gentil com ele.

Tim trabalha com Markham há anos e seu pai lhe deu a autonomia para se virar sozinho, enquanto a isso porque acredita na sua capacidade de decisão – mesmo que limitada -, entretanto não apoia a forma de tratamento dos colegas do filho e por isso constantemente alimenta a força emocional de Tim para contornar situações desconfortáveis, como essa.

A Srta. Morton num dia comum de sua vida e preparada para sua batalha diária no trabalho, vislumbra a imagem de algum deus grego no meio dos mortais quando se vira para olhar a que pé está a obra na casa de sua vizinha. Em seus quarenta e quatro anos de vida nunca fora atingida tão profundamente pela beleza e presença de um homem. aquele jovem era a própria beleza que os gregos falavam e os romanos copiavam. Ela sabia que seus desejos estavam adormecidos há décadas, porém aquele rapaz tinha algo que a acordara para seus hormônios femininos. Ela se repreendera com sua “indecência” e por isso segue para seu local de trabalho tentando esquecer àquele homem.

Quando chega a Sra. Parker pede para que ela vigie o trabalho final de um dos operários na coleta de ferramentas, porque ela iria visitar seu filho com urgência. A srta. Morton aceita mesmo cansada e vai até o quintal da vizinha ver o trabalho do peão e quando se depara com a figura do Apolo que tinha vislumbrado mais cedo: era Tim. Seu sorriso a tirava da racionalidade e a fazia esquecer de fugir daquilo que se movia em seu corpo.

Ela pergunta a ele se gostaria de ganhar uns trocados cortando a grama e ajeitando o jardim de seu chalé que está precisando de manutenção – o jardineiro anterior sumiu – e ele aceita. Começa ai uma amizade surpreendente para ambos e também dar início a uma exploração do desconhecido para os dois, que descobrem um no outro seus verdadeiros potenciais como seres humanos e são envolvidos nos braços gentis e seguros do Amor, porém o amor tem tendência a desafiar as moralistas convenções sociais e por isso o relacionamento de Mary e Tim passará pelo vale do sofrimento.
“[...]Não, a sua vida não tinha sido vazia ou falha de estímulos, contudo fora inteiramente desprovida de amor.” p.71
Tim Melville é um personagem espetacular. Nunca li um livro com um personagem protagonista que tenha retardo mental e foi uma experiência enriquecedora, porque a quebra de tabus e preconceitos foi intensa e me fez lembrar da minha convivência com meu irmão Richard na infância (ele está em algum lugar melhor agora). Tim é simplesmente inocência e pureza. Não qualquer maldade em suas palavras e comportamento. Sua condição mental lhe limitou com sua intelectualidade e por isso sempre ficara sob a proteção de seus pais – Es e Ron – e de sua irmã mais nova Dawnie.

A Srta. Mary Morton é uma mulher madura e que dedicou sua vida ao trabalho. Fora abandonada na tenra infância e por isso viveu toda sua vida no orfanato e quando pode começou a trabalhar e juntar dinheiro. Hoje tinha um trabalho estável e uma condição de vida elevada. Nunca se envolvera com qualquer relacionamento e por isso desconhecia os desejos e tentações e quando se vê diante de Tim, ela percebe que é uma mulher e seu corpo nunca morrera, apenas adormecera.

O envolvimento de Tim e Mary é sublime e cativante para os leitores, porque começa da forma mais despretensiosa possível, pois para Mary, Tim era apenas uma criança inocente que podia ser um belo amigo para dar mais cor e movimento para sua vida de isolamento e para o jovem, o relacionamento com Mary fora uma forma de crescimento intelectual, já que ela era tranquila e didática com ele ao ensinar e acreditava em seu potencial e não o tratava como alguém com limitações claras.
“Mary evitava o lado físico de sua natureza como o faria com a relação a uma peste, trancafiava-o em algum canto escuro e adormecido de sua mente e recusava-se a admitir que existisse.” p.72
O que é excepcional na narração dos acontecimentos é que de forma alguma achamos que o sentimento que surge entre os dois é indecoroso e pecaminoso, no sentido cristão, na qual a autora se baseia. O livro se passa na década de 70 e por isso mostra um mundo ainda afundado no moralismo – ainda existe isso em grande parte do planeta – e que as pessoas acham tudo afrontoso as regras do deus criador. Para Mary nutrir um sentimento além de fraterno por Tim, é como zombar da Trindade cristã e por isso, ela mesmo vai destruindo seu íntimo e além dela ter uma visão deturpada de si mesmo. Ela não se ama e nem se vê como uma boa mulher - emocional e fisicamente – para Tim e vai sabotando sua relação com ele.

Paralelamente, Tim começa a demonstrar afeto diferenciado para com Mary. Ele pode ter retardo mental, mas seu corpo é de um homem na flor da idade e seus hormônios são tão normais quanto de qualquer outro homem e por isso percebemos que seu olhar sob ela é de um homem apaixonado, só que suas limitações mentais não lhe dão modo de expressar isso com exatidão e os julgamentos alheios vão suplantando tudo em torno dos dois.

Os pais de Tim são maravilhosos, porque sabem que não tiveram condições de dar tudo que ele merecia e nem detinham paciência para ensiná-lo e quando percebem a notória melhora e evolução do filho com Mary, percebem que ela pode ser a pessoa que cuidará dele quando partirem. Somente a irmã de Tim torna-se uma megera quando vê o irmão crescendo e se desligando dela. Eu a detestei desde o começo.

O livro é curto, todavia li com calma e paciência, porque queria me deleitar com cada pedacinho da história e passar uma semana maravilhosa com os personagens desse mundo criado por essa autora talentosa que escrevera algo tão atemporal que consegue nos tocar em pleno século XXI.
“[...] O amor não é a resposta absoluta para tudo mas é a parte integral de tudo e deve ser temperado com a paciência, compreensão, sabedoria e previsão, especialmente quando se lida com alguém tão complexo quanto uma criança excepcional.” p.126
A obra tem quatro décadas, entretanto o linguajar é comum como o nosso, então não tem como causar desconforto ou dificuldade na leitura. É narrado em terceira pessoa e não vou avaliá-lo fisicamente – é uma edição antiga – e porque não sou influenciada por capas e folhas. A obra tem outras edições pela Betrand.
Tim é a realidade. É a quebra de tabus e limitações sociais e moralistas para os relacionamentos. É a ruptura com os grilhões chamado Sociedade.

Nota para a obra:
 5/5 Favorito 


Comentário(s)
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11 comentários

  1. Nossa que resenha gostosa de ler, a forma como gostou do livro e enalteceu ele foi muito bom, mas confesso que não curto esse tipo de leitura, na verdade eu não ando lendo muito, mas quem sabe mais a frente eu não leia, obrigada pela dica.

    Beijos

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  2. adorei a resenha, confesso que nunca tinha ouvido falar desse livro, mas achei interessante a temática dele e sua edição também é linda, adoro livros antigos <3
    Não sei se leria ele por vontade propria, mas quem sabe eu dê uma chance um dia!!

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  3. Oi, Jopanice! Quando você falou que a obra tem quatro décadas, eu lembrei que já tinha lido sobre essa história em algum lugar! A capa mesmo remete a uma época como os anos 70. Gostei da sua resenha, não era o que eu esperava desse livro. Parece uma história muito sensível que continua sendo atual como a época em que foi lançada.
    Bjs
    Lucy - Por essas páginas

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  4. Achei a premissa bastante interessante. Já li outras obras em que há um protagonista com retardo mental e acho bacana que esse tipo de visibilidade chega até a literatura, porque acaba gerando um debate muito saudável sobre relacionamentos. Dica anotada, adorei a resenha.

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  5. Olá!
    Confesso que quando comecei a ler a resenha, já estava achando que não ia gostar da trama. Meu maior receio era que a mulher se aproximasse dele já com desejos a flor da pele e meio que o envolvesse dessa forma. Mas fiquei tão surpresa e, consequentemente, maravilhada em saber que não foi assim, que eles se tornaram amigos e foram crescendo, cada um a seu modo, juntos, que eu tô aqui agora ansiosa pra poder ter uma edição em mãos e conhecer "pessoalmente" essa história. Amei a dica!
    Abraços

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  6. Olá!
    Adorei a resenha, nunca tinha ouvido falar dessa obra. Parece ser bastante interessante..
    Achei lindo os quotes que você trouxe.
    Não leio tanto livros mais antigos, mas esse despertou bastante meu interesse. Vou anotar sua dica.
    Beijos!

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  7. Que edição maravilhosa! Eu não conhecia o livro e já me encantei pela capa, lendo as suas impressões com a leitura eu fiquei completamente interessada em ler também. Parece ser uma obra necessária nos dias de hoje e espero ter a oportunidade de realizar a leitura em breve.

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  8. Olá!
    Menina, não conhecia esse livros, que história é essa? Fiquei mega envolvida na sua resenha e querendo ter essa história em mãos para devora-la e me envolver ainda mais com esses personagens. uma história bem diferente do que ando lendo, espero poder conferir em breve!

    beijos!

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  9. Olá!
    Nossa, no início da resenha eu acreditava que esse livro era mais um dos romances açucarados dos anos 70, mas, agora, me pareceu bem profundo. Não lembro de outro livro dessa época que aborde a vida sexual de um deficiente mental. Muito interessante.
    Bjs, Tatiana Castro.
    gatitaecia.blogspot.com.br

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  10. Olá,
    Eu achei tudo bem complexo... Nem tanto pela época, já que leio coisas até mais antigas. Não sei se são os elementos os quais não entendi direito, mas no momento passo a dica mesmo a edição parecendo bem bonita.

    Debyh
    Eu Insisto

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  11. Olá, tudo bem? Adoro histórias atemporais, que mesmo lendo fora da "época" que foi lançado, seu linguajar ultrapassa barreiras. Não lembro de ter lido algo com enredo parecido, por isso fiquei bem instigada. A sua edição é antiga né?! Adoro livros de capa dura antigos (o que parece ser hehe). Com certeza dica anotada!
    Beijos,
    https://diariasleituras.blogspot.com

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