[Resenha] Sem tempo para despedidas - Lindwood Barclay

Título: Sem tempo para despedidas

Autora: Lindwood Barclay

Editora: Record

Ano: 2013

N° de Páginas: 384

Skoob

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Sinopse:

Quando Cynthia acorda de ressaca numa manhã, percebe o silêncio que impera em casa. Ela logo nota que, sem qualquer explicação, todos os membros de sua família desapareceram sem vestígios. Vinte e cinco anos se passam e ela ainda sofre com o mistério. Casada e com uma filha pequena, teme que uma tragédia similar ocorra com sua nova família. Assim, Cynthia aceita participar de um programa de TV para reviver o caso, com a esperança de que isso trouxesse a verdade à tona. Mas desenterrar algumas lembranças pode ser o início de um grande pesadelo...

Sem tempo para despedidas é um suspense que você pega sem pretensões, mas quando começa a ler, acaba se vendo num emaranhado de mentiras, ilusões e segredos que podem deixar qualquer um louco e com medo do ser humano.

“- Porque eles estão num lugar onde não posso levar você e Grace.” p.74

Cynthia Bigge tem quatorze anos e está namorando no carro do seu “namorado” – Vincent Flemming – ao invés de estar em casa na altura dos olhos atentos de seus pais. Ela sabe que pode ficar de castigo, mas não se importa porque está adorando a atenção de Vince. Entretanto, seu pai a encontra não tão longe de casa e a arranca dos braços do namorado. Ela acha que ele está exagerando e principalmente que está fazendo-a passar vergonha. 

Seu pai a leva de volta para casa. Ele passa um sermão daqueles nela. Ela sobe as escadas de sua casa e deseja que seu pai morra por tê-la humilhado na frente do rapaz que gostava. O sr. Bigge era bonzinho e certinho demais. Ela odiava esse controle dele. Cy estava chapada de tanto ter bebido e dormi profundamente e não ouviu nada do que ocorreu com sua família.

Cynthia acorda no outro dia e simplesmente se espanta com a dor de cabeça que sente por causa da ressaca de ontem. Não ouve nenhum ruído em sua casa e acha estranho. Reflete um pouco e imagina que seu pai fora para alguma viagem de negócio, sua mãe deve ter ido para a loja mais cedo e seu irmão caçula deveria ter ido com sua mãe. Ela se levanta e anda pela casa e começa a perceber que algumas coisas não se encaixam ali. Não há resquícios de café da manhã ou aroma de café ou qualquer comida. As camas estão bem arrumadas e somente os carros dos pais não estão em casa.

Ela opta por achar que tudo está normal e vai para escola na esperança de encontrar seu irmão se aquilo era um castigo familiar por sua atitude na noite anterior. Ele não está lá. O medo a consome. Ela volta para casa correndo e percebe que sua família sumiu. Cy não se lembra se eles falaram algo na noite anterior. Ela começa a cogitar que algo aconteceu com eles. 

Será que foram mortos? Raptados? Abandonaram ela? Se mataram sua família, por que não a mataram também?

“Ela apenas se aproxima e olha bem para ele. Ele quer desviar o olhar, não consegue, como se estivesse hipnotizado pelo mal. Olhar para ela é olhar para a alma do demônio. [...]” p. 328

Vinte e cinco anos após esse fato curiosos e traumático, Cynthia agora é casada com Terry Archer e tornou-se mãe da apaixonada por Astronomia,  a doce Grace. Ela pode ter uma família hoje, mas ainda é fruto do enigma que envolve o sumiço de seus pais. Isso a consome diariamente e afeta sua psique e seu convívio familiar. Ela então resolve participar de um programa de tv para contar seu drama e tentar encontrar alguém que saiba alguma coisa sobre seus pais ou seu irmão Todd.

O programa vai ao ar, entretanto nenhuma notícia chega sobre sua família e o temperamento de Cy piora e agrava mais a harmonia de sua casa. As coisas mudam quando uma carta sem assinatura chega em sua residência e dão início à uma caçada mortal e dolorosa para Cynthia e sua família.

O que será que a carta dizia? O que aconteceu com a família da nossa protagonista? Será que vinte e cinco anos após o desaparecimento deles ainda pode haver alguma pista sobre o paradeiro dos Bigge?

O livro é um thriller que desperta o lado mais Sherlock Holmes possível, porque o desaparecimento de uma família sem rastros é de deixar qualquer pessoa em sinal de alerta e curiosa para saber a verdade. A obra tem pontos de linearidade e de reviravoltas e descobertas em momentos oportunos.

Cynthia não é uma personagem fácil de simpatizar. Primeiro ela é apresentada como uma adolescente problemática e incapaz de obedecer a seus pais. Depois é “milagrosamente” a única sobrevivente de um provável assassinato e por fim torna-se uma adulta perturbada por seu passado. Sua rotina se resume  a relembrar a todo instante do que lhe ocorreu. Sua convivência com a família é delicada e nociva, porque sua filha tem ansiedade e seu marido não tem um momento de paz ao seu lado.

Terry se casou com Cy simplesmente por amor porque só amando para aturar e suportar todos os surtos e vitivismo que a esposa faz constantemente. Ele é forte e paciente em tudo. Claro que há momentos que ele age como nós e fala coisas que ferem profundamente Cy e percebemos que ela não age assim por querer e sim por está presa à algo que não foi finalizado.

Grace é uma criança inteligente e bem sagaz para sua pouca idade. Ela conseguiu transformar seu drama familiar em uma metáfora metafísica. Ela transformou os cometas nos culpados pela ruína do bem estar de sua mãe. Ela fala coisas bem inteligentes e cheias de maturidade e boa observação.

“Eu os detestava por explorarem a tragédia de Cynthia , por explorarem o sofrimento dela para divertir.” p.27

Há outros personagens como a tia que criou a Cy quando a família sumiu que é uma senhora bem engraçada e punho firme que aguentou a responsabilidade com amor e dedicação a sobrinha. Tem a amiga tagarela da protagonista que fala sem pensar nos sentimentos alheios, a jornalista do programa que é uma vigarista sem coração e outros que são rodízio na obra.

A narração da obra é feita por Terry e como é em primeira pessoa nos deixa longe de conhecer Cynthia sob o olhar de seu tormento interno. A opção por ele é clara: a autora queria que julgássemos a protagonista sem nos envolvemos com ela. Ela jogada nos deixa com julgamentos bem extremos. Algumas vezes entendemos as atitudes dela e em outros, a culpamos de intensificar seu problema e tornar-se o centro das atenções. A escolha nos mostra que somos prontos para julgar sem nos colocamos no lugar dela, porque sempre veremos por que ela fez aquilo e assim como o marido dela percebemos que estamos ignorando a individualidade de cada pessoa e a forma como cada uma sente sua dor.

 O desfecho da história é bem inesperado e li que algumas pessoas acharam bem fraco, porém não concordo com eles. Quando a verdade é revelada realmente nos deparamos com a escolha do narrador e o motivo por que não podemos confiar cegamente nas pessoas, já que sempre agimos ao nosso favor, seja pela nossa sobrevivência ou protegendo alguém que amamos.

Algo que preciso ressaltar é a grande gama de erros gramaticais na obra que alguns momentos me irritaram bastante. A revisão falhou grotescamente na obra e espero que na nova edição isso seja sanado.

A capa condiz com todo o contexto e transparece muito da personagem principal e a fonte do texto é agradável juntamente com as folhas amareladas.

Sem tempo para despedidas é um thriller eletrizante que desperta nossa obsessão por teorias da conspiração e nos revela que nem sempre as coisas são do jeito que nós vemos.

Nota para a obra:

4,5/5