[Especial Lovecraft/Resenha] O Horror em Red Hook e Outras Histórias

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Título: O Horror em Red Hook e Outras Histórias
Autor: H.P. Lovecraft
Editora: LPM
Ano: 2012
N° de Páginas: 64


Sinopse:
Por trás do mundo visível há labirintos tenebrosos que escondem horrores desconhecidos. Feitiçarias antigas e rituais dos mais sinistros se misturam num caldeirão que exala o odor pútrido do mal. Esse é o universo de H. P. Lovecraft. Conhecido como o inventor da moderna tradição da literatura de horror, o autor imprimiu sua marca no gênero nas primeiras décadas do século XX, deixando de lado fantasmas e bruxas e imaginando a humanidade se curvando a um universo caótico e sombrio. Desenvolvendo uma mitologia própria, criou histórias nas quais a realidade e o pesadelo são separados por um fio tênue. Este volume reúne “O horror em Red Hook”, “Ele” e “A tumba” – um de seus contos mais famosos –, relatos nos quais a experiência do medo está próxima de uma fascinação temerosa.



Lovecraft é um dos maiores escritores do gênero suspense, terror e horror, porque escrevia autênticas obras que permeiam nossos medos, horrores e pesadelos mais sombrios através de culturas extremamente antigas e rituais que ultrapassavam a realidade humana.

O Horror em Red Hook conta a história do oficial da Polícia de Nova York, Thomas. F. Malone que mora na cidade de Chepachet depois de perder o equilíbrio mental na maior cidade dos EUA.

“Ele tinha a visão celta profunda para coisas misteriosas e ocultas, mas o olho rápido de um lógico para os visivelmente céticos; [...]”.

Malone sempre fora um homem de convicções morais e religiosas abertas e posicionamentos centrados e justos diante seu trabalho. Lutava que a cidade fosse limpa de toda marginalidade e obscuridade que marchasse a paz e a tranquilidade dos moradores de Nova York. Com uma reputação invejável e impecável é convocado a participar de uma operação especial no distrito de Red Hook. Não sabia ele que esse convite seria sua sentença de loucura e muitas perdas.

“Red Hook é um labirinto de esqualidez híbrida próximo à antiga zona portuária e de frente para a Governor’s Island.”

Red Hook era uma periferia esquisita e assombrosa. Parecia que o Mal habitava aquele lugar. Os atores sociais daquele lugar aterrorizavam com suas aparências tenebrosas e convidativas para a entrada do Inferno. Malone sabia que aquela operação não partia desse mundo, mas ultrapassava a barreira entre a Terra e o Mundo de dor e sofrimento que era o Inferno.

Nesse cenário digno de Clive Baker, o oficial se depara com uma figura bem peculiar: Robert Suydam que era um recluso erudito de uma família holandesa antiga e humilde que do dia para a noite se envolve com pessoas estranhas que trabalham com ocultismo e religiões há anos sepultadas. Ele tornou-se maltrapilho, ausente e começou a abrigar marginais e participantes de seus rituais em suas casas e vagar pelos labirintos de passagens subterrâneas que estavam escondidos debaixo desse distrito maldito.

Os familiares restantes de Suydam tentam interna-lo, já que acredito em sua insanidade, porém perdem vergonhosamente diante o júri quando Robert interpreta um homem capaz de controlar suas faculdades mentais de forma exímia e após isso se afunda mais em antros de podridão e degeneração humana até seu casamento com uma jovem linda que termina na morte de ambos num cruzeiro.

Após as mortes misteriosas de Robert e sua noiva, Malone é levada ao seu maior trauma que culminou em perdas irreparáveis e que levaram sua existência amaldiçoada a pacata cidade de Chepachet.

O que ele queria esconder de todos? Por que escolheu ir para bem longe de seu lar e trabalho? Que perda teve com essas descobertas horrendas e surreais?

O conto Ele nos aterroriza com a história de um jovem que tem hábitos peculiares, como andar solitariamente sem destino certo e observando pessoas e seu lado proibido e oculto de todos.

Numa dessas andanças, ele se depara com um homem estranho e misterioso que lhe elogia dizendo que é um rapaz de observação profunda, olhar altivo e intelecto avançado. O estranho lhe convida para um lugar onde ambos terão encontro com o Destino e o Passado. O jovem tentado e sendo levado por suas ambições enfreáveis, é conduzido a uma casa bem distante de qualquer resquício de vivência humana.

A casa é escura e cheia de mofo exalando podridão e cadáveres ali já enterrados, mas nosso impulsivo narrador é indiferente a isso, esperando saciar sua curiosidade infernal sobre aquele homem enigmático.

Após um momento de estranha contemplação do estranho com nosso narrador, um sorriso diabólico atravessa o rosto de nosso enigmático homem e jorra de sua boca um passado mortífero e sanguinário que abala nosso jovem, porque traz alucinações horrendas e dignas de Stephen King.

Quais seriam as verdades enunciadas? Que pecados esse homem misterioso teria confessado para trazer a sanidade ao nosso jovem narrador? Seria o homem, um demônio?

“Quem ou o que era aquela criatura, não tenho a menor ideia; mas repito que a cidade está morta e repleta de horrores desconhecidos.”

No último conto temos A Tumba que narra a história de Jervas Dudley que é solitário e sóbrio em todos os momentos de sua pacata juventude.

Seus pais sempre quiseram que Jervas fosse mais efusivo, festivo e social, porque parece um homem destituído de carisma e habilidades sociais que o transformam em motivos constantes de chacotas e murmúrios pelo vilarejo.

“Naquele caixão e naquela câmara mortuária eles me prometeram que serei enterrado.”

Desde pequeno o jovem leu e viu coisas que crianças normalmente nunca veriam e isso influenciou em suas obsessões. Seu maior desejo é ser enterrado como um Hyde de verdade e isso o leva a câmara mortuária dessa família que tem o sobrenome do doutor do livro O Médico e o Monstro.

Rico além do necessário e desprovido de ambições sociais, o jovem numa de seus passeios diários é levado ao mausoléu dos Hydes e começa aí a obsessão desenfreada de Dudley para fazer parte dessa família que um dia fora importante naquele lugar.

“Não acredito que estava aterrorizado, ou tomado pelo pânico, mas sei que fui completa e permanentemente mudado naquela noite.”

Ele invade o lugar mesmo sabendo que os moradores diziam que o lugar era assombrado e recebia visitas constantes do próprio Diabo. Tomado pela insanidade e certeza que seus ancestrais tinham uma conexão profunda com aquela família que já jazia enterrada antes de seu nascimento, Jervas torna-se um visitante constante do cemitério dos Hydes e tem contato direto com o oculto.

Será que Jervas realmente era um Hyde? Por que ele queria tanto ser enterrado como outra pessoa? Seriam alucinações as pessoas que falavam com ele naquele lugar? Qual será o final de nosso jovem Dudley?

“Por uma semana vivi todas as alegrias daquela sociabilidade sepulcral que não devo descrever. Foi então que aconteceu a coisa, e me trouxeram para esta moradia maldita de tristeza e monotonia.”

Lovecraft nos leva para histórias de puro misticismo, transcendentalismo, ocultismo e insanidade humana. Suas palavras parecem códigos de uma linguagem morta que invoca o inacreditável.

Os enredos terminam deixando margem para os leitores interpretarem da forma que acharem conveniente, baseando-se em seus posicionamentos espirituais, mentais e morais, porque nossos personagens normalmente representam fragmentos de Lovecraft que tinha uma vida mundana, mística e curiosa para todos.

A escrita do autor é do século XIX e XX que pode causar uma certeza estranheza e empecilhos, mas nada que um dicionário não possa resolver.

Resolvi reler as obras de um dos mestres do terror, porque esse ano quero dar mais atenção aos meus autores prediletos que incluem Lovecraft, Poe e Sir Arthur Conan Doyle.




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