[Resenha] A Corrente - Adrian McKinty

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Sinopse:
Vítima.
Sobrevivente.
Sequestrador.
Criminoso.
Você vai se tornar cada um deles.

O dia começa como qualquer outro. Rachel Klein deixa no ponto de ônibus a filha de 13 anos, Kylie, e segue sua rotina. Mas o telefonema de um número desconhecido muda tudo. Do outro lado, uma voz de mulher avisa que Kylie está no banco de trás de seu carro, e que Rachel só verá a filha de novo se pagar um resgate ― e sequestrar outra criança.

Assim como Rachel, a mulher no telefone é mãe, também teve o filho sequestrado e, se Rachel não fizer exatamente o que ela manda, o menino morre, e Kylie também. Agora Rachel faz parte da Corrente, um esquema aterrorizante que transforma os pais das vítimas em criminosos ― e, ao mesmo tempo, deixa alguém muito rico.

A Corrente é implacável, apavorante e totalmente anônima. As regras são simples: entregar o valor exigido, escolher outra vítima e cometer um ato abominável do qual, apenas vinte e quatro horas antes, você se julgaria incapaz. Rachel é uma mulher comum, mas, nos dias que se seguem, será levada a extremos que ultrapassam todos os limites do aceitável. Ela será obrigada a fazer escolhas morais inconcebíveis e executar ordens terríveis. Os cérebros por trás da Corrente sabem que os pais farão qualquer coisa pelos filhos. Mas o que eles não sabem é que talvez tenham se deparado com uma oponente à altura. Rachel é inteligente, determinada e... uma sobrevivente.

Enredo:

Kylie é uma adolescente comum de treze anos. Uma aluna com boas notas, apaixonada por coisas como mágica e por isso ganhou um kit de mágica no último natal, mas escondeu isso dos seus colegas de escola, porque seria zuada. Apenas Stuart entendia seus gostos.

Todos os dias ela vai para escola sozinha. Sua mãe está começando seu novo trabalho hoje e assim retornando a normalidade após um tratamento exaustivo de câncer de mama. Hoje seria mais um dia comum na vida da menina, mas enquanto estava esperando o ônibus para a escola, ela é abordada por um  homem encapuzado que disse que ela teria que ir com ele. Ela foi e ali começou seu pesadelo.

Rachel O'Neil está a caminho de sua consulta com sua médica. Os resultados dos exames saíram. A resposta pode ser positiva ou negativa. Ela só deseja que as coisas sigam o fluxo normal novamente. Só que a normalidade e o previsível lhe fogem de suas mãos quando recebe a ligação de um número desconhecido dizendo que sua filha Kylie fora sequestrada e que ela precisava pagar vinte cinco mil dólares e sequestrar uma outra criança para ter sua filha novamente. Assim se inicia a vivência de Rachel com A Corrente.

Forçada por seu instinto maternal de proteção a sua cria, ela se vê diante decisões inimagináveis e condenáveis pela sociedade e por ela que é formada em Filosofia. Com ajuda do seu ex cunhado Pete, Rachel se embrenha nas entranhas pegajosas e venenosas da Corrente.

Será que Rachel vencerá sua moral e as regras sociais para resgatar Kylie? E se conseguir, A Corrente realmente a libertará de suas algemas? Quem estava por detrás daquela "entidade"?

Personagens:

Rachel é uma personagem que no começo parece frágil e vulnerável demais. Não temos certeza se ela vai aguentar e uma nova vítima será colocada em seu lugar, mas sua recente experiência com o risco de vida acabou lhe conferindo mais força e seu instinto natural de proteção com sua filha lhe deram uma coragem digna dos heróis da mitologia grega. Sua sagacidade, conhecimento filosófico e sociológico lhe ajudaram abundantemente em suas decisões.

Pete é um personagem que desperta desconfiança logo no momento que é invocado na história. Ele é militar da reserva e teve um bom histórico nos Fuzileiros Navais, mas sua reputação fora manchada quando decidiu ser irresponsável e essa decisão tirou a vida de vários companheiros na guerra. Com isso torna-se um viciado, já que seus traumas bélicos definiram sua atual situação psicológica, mas sua garra e amor pela sombrinha Kylie lhe deram uma áurea de um anti-herói que se regenera no meio dos seus desafios impostos por alguma divindade que ainda acredita em seu potencial.

Marty que é pai de Kylie e irmão de Pete é um homem bem sucedido, rico, bonito e um tanto ambíguo. Sua presença na história é tão insignificante quanto  seu papel no enredo. É um personagem que aparece apenas para momentos de refúgio para a filha e para mostrar sua nova conquista amorosa.

Alguns outros personagens surgem, mas sãoA Corrente pontas essenciais dessa teia de aranha que é esse enredo e por isso não serão citados, mas fiquem atentos a qualquer figura que adentrar nessa história.

Desenvolvimento:

A Corrente se baseia numa premissa natural e irrefutável da natureza nos animais: O instinto de sobrevivência e proteção. Quando vemos a pessoa que amamos em apuros não lutamos apenas para salvá-la do "perigo", mas também estamos nos protegendo de uma possível perda que pode nos destruir profundamente, na verdade até o amor é egoísta.

A história se desenvolve ao redor dos acontecimentos com Rachel e Kylie. Eles são as vítimas que podem ser problema para a entidade aparentemente impossível de ser derrotada. Par as "Forças" que regem a organização, Rachel é perigosa, porque parece não ter muito medo das consequências e sempre está tentando ser esperta e contornar as regras e por isso os pedidos para ela são mais severos e carregados de claras evidências de egos feridos de sociopatas.

Rachel é uma personagem que representa a ruptura do ideal e do real. Sempre acreditamos que podemos viver completamente longe da quebra de regras sociais ou legais, porque em nenhum momento paramos para imaginar que podemos ser vítimas de um golpe fatídico do destino. Ela se vê torturando, sequestrando e tornando-se um monstro para ter sua filha novamente. Aqui se confirma a ideia que o próprio Amor é um sentimento egoísta, porque quando amamos só pensamos no bem estar do ser amado e não nos demais e por esse sentimentos somos capazes das maiores atrocidades.

A linha entre a moral e a amoralidade é bem fina e isso já era algo debatido por Nietzsche que acreditava que a moralidade fora feita apenas para o controle daqueles que não desafiavam o topo da "cadeia", a sociedade, e mantinham-se abaixo das grandes decisões. A mente ou as mentes que está/estão por detrás da Corrente sabem que poder envolve falta de escrúpulos e quanto mais poder se tem, mais se almeja e isso leva a uma derrocada exponencial, porque nenhuma instituição pode crescer proporções astronômicas sem ruir.

Final:

A tensão latente e os fragmentos da real história da Corrente são constantes em todas as páginas do livro e nos levam a sermos obrigados a esquecer o mundo ao nosso redor e apenas ficar no aguardo do desfecho e quando ele vai se descortinando, ele vai apresentando facetas macabras e identidades que nunca desconfiaríamos.

Quando a verdade se faz presente, a angústia chegou nos níveis mais altos possíveis, entretanto os acontecimentos se desenrolam de forma rápida, como uma seringa num braço de uma criança e apenas a tensão da picada era real e palpável. A desenvoltura apresenta-se clichê demais e insatisfatória diante a alta qualidade da obra.

O final é tolerável, porém insuficiente diante o nível altíssimo de pontas em aberto que os acontecimentos vieram demonstrando, entretanto acaba sendo tragável porque 98% da obra foi autêntica, original e promissora.  

A Corrente é um thriller que vai te deixar paranoico e consciente de que todos seus passos são monitorados e que existem "forças invisíveis" que regem esse mundo social com mão de ferro e enganando a todos com uma falsa liberdade.

Título: A Corrente
Autor: Adrian McKinty
Editora: Record
Ano: 2019
N° de Páginas: 378
Onde comprar: Amazon
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