Nome:
Put
sem farofa
Autor:
Gregório
Duvivier
Ano:
2014
Editora:
Companhia das Letras
N°
de páginas: 208
Sinopse:
Trata-se de uma amostra da verve humorística - embebida de zeitgeist, crítica ferina e muito afeto - de Gregorio Duvivier, um dos autores mais inventivos e promissores do Brasil na atualidade. Reunindo o melhor de sua produção ficcional, Put some farofatraz textos publicados na Folha de S.Paulo e esquetes escritos para o canal Porta dos Fundos, além de alguns inéditos.
Se Gregorio revela o raro dom da multiplicidade, tendo despontado no cenário cultural brasileiro ao mesmo tempo como ator, roteirista, comediante, cronista e poeta, também múltiplo é este volume, que transita entre ficções, memórias de infância, ensaios sobre artistas que o influenciaram, artigos de opinião, exercícios de estilo e experimentações sem fim. Os textos vão da pauta que está sendo debatida naquele dia no jornal ao completo nonsense; do lirismo ao humor escrachado; do íntimo ao universal.
No conjunto, o que espanta no autor é o frescor, a coragem, e, sobretudo, a capacidade inesgotável de se renovar a cada semana, contando sempre com a inteligência e a sensibilidade do leitor.
Esse livro é de um humor
típico dos programas televisivos da MTV e Rede Globo – a Tv na TV- aquele humor
que impacta quem não está acostumado as palavras sem avisos prévios de spoillers.
Gregório Duvivier como
ele mesmo diz “um faz tudo”, não tem como intitulá-lo como cronista, poeta,
humorista e afins. Ele tudo em um só. Nesse livro ele cumpre todos esses papéis
de forma bem divertida e atraente aos leitores.
O livro é uma reunião de
crônicas e poemas de Gregório que tem temas variados o que atrai os mais
diversos públicos. As crônicas são muito similares ao grande Millôr – esse que
Duvivier é fã – com as construções simples, mas com um humor sem pudor e
direto.
Vários temas são
abordados nos textos do autor. O tema com maior gama de textos são os
relacionamentos que são tratados com ironias e um bom humor negro em suas
palavras. Algumas vezes Gregório remete suas palavras para lições que aprendeu
vivendo ou observando as situações rotineiras de sua vida: “Não sei quem está certo. Mas aprendi que as brigas de casal pertencem
ao universo quântico. Duas pessoas falando coisas opostas podem estar
igualmente certas — e frequentemente estão. Tudo o que eu queria era poder
guardá-los no palco, tocando juntos — infalíveis. ”
A capa do livro é bem do
jeito do humorista, simples e engraçada.
Algo bem interessante no
livro é a descontrução de preconceitos sociais que o autor trata com responsabilidade
e seriedade sem deixar o humor de lado. A brincadeira com coisas sérias faz dos
textos um posicionamento do autor diante esses problemas sociais: “Recentemente anunciaram que uma mulher
presidiria uma estatal. Todos os comentários da notícia versavam sobre sua
aparência: “Essa eu comeria fácil” ou “Até que não é tão baranga assim”. O
primeiro comentário sobre uma mulher é sempre este: feia. Bonita. Gorda.
Gostosa. Comeria. Não comeria. Só que ela não perguntou, em momento nenhum, se
alguém queria comê-la. Não era isso que estava em julgamento (ou melhor: não
deveria ser). Tinham que ensinar na escola: 1. Nem toda mulher está oferecendo
o corpo. 2. As que estão não são pessoas piores. ”
Algo que adoro no humor
contemporâneo e que é marca registrada do Duvivier é a brincadeira com as
religiões. Ele brinca com a figura divina sem ofender quem ler – no meu caso,
não me ofendeu em nada- e chamar a atenção ao senso comum e a alienação
religiosa que a maioria das pessoas tem caídos, sendo levadas por “homens de
Deus” ou “profetas enviados por God” ou aqueles que pedem – dinheiro – em nome
de um Ser Supremo e esses mesmo nem sabe qual destino essa oferta é dada. “[...]A propósito: esse povo pra quem vocês
doam o dízimo não está me repassando o valor. Ninguém até hoje sequer me pediu
minha conta pessoal. ”
Toca na ferida, como ele
mesmo diz nas hipocrisias diárias. Nos julgamentos prévios. “A mulher da minha coleção critica periguetes porque elas não se dão
valor — chama isso de feminismo. Saia curta, nem pensar. “Depois reclama quando
é estuprada…” A mulher da minha coleção acha que mulher gorda devia evitar sair
de casa. “Ninguém é obrigado a ver gente obesa. ” A mulher da minha coleção
finge que não sabe que é traída pelo homem da minha coleção e se vinga
estourando o limite do cartão de crédito do homem da minha coleção, que por sua
vez finge que não sabe e se vinga saindo com outras mulheres da minha coleção.
”
Um livro que me
surpreendeu. Fez-me ri muito e refletir também.
“Aí
você me pergunta: vale a pena ver um seriado tão longo que pode ser
interrompido a qualquer momento sem que te expliquem porra nenhuma? Talvez
valha, como Seinfeld, pelas tardes com os amigos tomando café e falando merda.
Ou, como Girls, pelas cenas de sexo. E pela nudez. Talvez valha, como Chaves,
pra rir das mesmas piadas e chorar quando você menos espera. Pelos churros.
Pelos sanduíches de presunto. E vale, de qualquer maneira, porque a vida,
chata, óbvia ou repetitiva, é a única coisa que está passando. ”