[Resenha] Bocas de Mel e Fel - Nilza Resende

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Título:  Bocas de Mel e Fel
Autora: Nilza Resende
Editora: Record
Ano: 2011
N° de páginas: 124
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Sinopse:
Com uma narrativa estética, Nilza Rezende faz, em 'Bocas de mel e fel', um balanço das relações amorosas, das ambições perdidas, da força (e da dor) da palavra. Em um tom confessional, Irene, uma bem-sucedida advogada, revela sua paixão avassaladora por Antonio, um primo do interior, considerado inadequado para uma mulher de seu nível; e seu relacionamento com o argentino Pablo, um professor universitário sedutor e violento.



Quando comprei esse livro para a leitura do Clube do livro do mês de maio fiquei com medo do que leria nele, mas tive o prazer de uma leitura densa, simbolista e cheia de lições de vida.

Nilza Resende nos apresenta uma história como outra qualquer, mas apontando pensamentos e “verdades” enraizadas que nos levam a escolhas malditas e fardadas ao fracasso e ao sofrimento.

Irene é uma advogada de sucesso e muito admirada no seio familiar. É casada com o argentino Pablo que é um homem muito viajado e culto, mas nossa narradora é apaixonada pelo seu primo Antônio, porém com medo dos julgamentos familiares e rejeição social, Irene nunca teve um relacionamento “às claras” com Antônio porque ele é um simples comerciante.

“ Os olhos azuis, olhos que me diziam tudo, olhos que me sabiam tanto [...]”

Desde pequena Irene escuta de sua mãe que comerciantes nada mais são que meros vendedores de cachaça e vão terminar a vida com a barriga grande atrás de um balcão sujo de uma quitanda no interior. Para sua mãe qualquer comerciante é “insignificante”. A jovem escutou isso quando estava tomando banho e contou a sua mãe que era apaixonada por Antônio. Sua mãe simplesmente rejeitou isso e envenenou a cabeça da menina com preconceitos e assim ignorando completamente o sentimento de sua filha.

“ Um homem sem patrimônio, um homem sem títulos, um homem comum – e o que vale um “homem comum”, senhores? ”

Aos longos dos anos Irene nunca esqueceu Antônio e juntos viviam um relacionamento proibido e escondido de todos. Eles se viam a cada sete anos. Isso mesmo apenas um dia a cada sete anos. Nem antes e nem depois. Antônio sempre queria mais, todavia Irene era refém de seus achismos e preconceitos. Casar-se com Antônio era humilhante e a levaria a uma queda social vergonhosa. Não queria isso. Ela era preconceituosa e sabia disso. Envergonhava-se disso, porém nunca mudava seu comportamento.

“ – A gente não pode amar quem a gente não conhece [...]”

Nilza nos leva a uma estética ousada e peculiar em seu livro. Uma construção totalmente diferente das quais sou habituada a ler. Isso torna tudo mais sofisticado e atraente. Ela coloca uma lupa sobre sentimentos universais e utiliza personagens tão simples e comuns que nos identificamos com ele.

Irene é uma mulher ambiciosa e preconceituosa. Acomodada com seu status social e dependente da aceitação dos outros. Parece não ter coragem de enfrentar as pessoas, principalmente sua mãe, para viver do lado do homem que ela ama desde a infância. Ela vive entre dois relacionamentos. Com Pablo, tem um relacionamento padrão e sem aprofundamentos. Elas não se conhecem 

intimamente. São superficiais. Ele é professor universitário e culto. Dar-lhe visibilidade social e conforto. Com Antônio, ela é livre e amada pelo que é. Mas quem ela era de verdade? Antônio parece conhece-la de verdade e lembrar-lhe de um tempo feliz e melancólico.
“ [...] e me mostravam que viver não era só perigoso, viver era catastrófico. ”

São relacionamentos completamente diferentes, mas que traduzem nossos relacionamentos cotidianamente. Muitas pessoas escolhem viver amores por dinheiro e posição social. Outros optam pela simplicidade do amor e enfrentam com firmeza e confiança a rejeição de muitos, porque sabem que a felicidade reside nas escolhas que correspondem as nossas vontades e a “voz do coração”.

Nossa autora ousa e nos presenteia com a cacofonia de sentimentos diários que vemos em qualquer canto. Um casal de namorados que sofre com a rejeição do namoro porque a menina é rica e o rapaz pobre ou a amizade de dois meninos na qual um é branco e outro é negro ou num casamento que o homem tem 50 anos e sua esposa 25. Sempre somos bombardeados por um mar de opiniões e levados a insuportáveis repreensões sociais que levam ao medo e até o fim de muitos relacionamentos.

Irene sente culpada e vítima de seus erros. Toda sua narração deixa claro que é apenas reflexo de sua educação e más escolhas e no final de sua história, ela aprendeu que tivera muitos arrependimentos, mas vivera bem, mas nem sempre fora feliz.

A capa do livro traz a simbologia do que Nilza quer nos dizer em seu livro surpreendente e delicioso: A nudez diante a vida. Somos apenas humanos e não carregamos em nossos corpos o mundo. As escolhas são nossas e apenas de nossa responsabilidade. Não nascemos para corresponder a exigência do mundo. Ser ovelha constantemente é destinar-se ao abatedouro.



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