[Resenha] A Livraria 24 horas do Mr.Penumbra - Robin Sloan

Sinopse:

A recessão econômica obriga Clay Jannon, um web designer desempregado, a aceitar trabalho em uma livraria 24 horas. A livraria do Mr. Penumbra — um homenzinho estranho com cara de gnomo.
Tão singular quanto seu proprietário é a livraria onde só um pequeno grupo de clientes aparece. E sempre que aparece é para se enfurnar, junto do proprietário, nos cantos mais obscuros da loja, e apreciar um misterioso conjunto de livros a que Clay Jannon foi proibido de ler.
Mas Jannon é curioso…

A Livraria 24 horas do Mr.Penumbra é uma mistura de ficção científica com suspense que resulta numa leitura alucinante e que deixa os leitores vidrados com cada acontecimento e revelação.

Enredo: 

Clay Jannon é um jovem designer que vivia com uma vida estável financeiramente após sua formatura na faculdade. Ainda não tinha feito nada memorável, como alguns de seus colegas de curso, porém estava ganhando bem. Entretanto, a vida normalmente não segue junto com nossos planos e principalmente com nossa necessidade de "porto seguro" e por isso uma grande crise financeira nos EUA abala todo o comércio e muitas pessoas ficam desempregadas e uma dessas é Clay.

"[...] Caminhar pelos corredores em uma biblioteca passando o dedo pelas lombadas... é difícil não sentir a presença de espíritos adormecidos." p.152

Para não ficar desempregado por muito tempo ele opta por diminuir suas seleções de emprego, porque não achava nada em sua área e num dia qualquer encontra um anúncio de vaga numa livraria que funcionava 24 horas. Ele vai até o local e fica desconfiado, porque os livros estão dispostos de forma vertical, do chão até o teto e o local é estreito e bem escuro e o responsável pelo local, um tal de Mr. Penumbra exala mistério pelo seu olhar e fala.

Clay é contratado e assume o turno da madrugada na livraria. É estranho trabalhar num lugar que a tecnologia pouco ganhou espaço e o atendente é proibido de ler qualquer obra do lugar, porque os livros são estranhos. Nada muito moderno. Só alguns clássicos, como, Verne, Marquez, Tolkien e outros, mas os livros mais estranhos eram os encadernados antigos que pareciam ser codificados e criptografados e não eram vendidos; eram emprestados para clientes bem sinistros e que pouco falavam.

Com o tempo nosso protagonista observa que aquela livraria é mais do que uma loja. Ali naquele lugar secular se esconde segredos, sociedades secretas seculares e outras coisas que nos trazem ansiedade, envolvimento total com os acontecimentos e a inserção de personagens marcantes, como, Kat Potente, programadora da Google, Mat, nosso criador de efeitos visuais e Neel Shay, amigo de infância de Clay e milionário da tecnologia. 

Será que a Livraria 24 horas do Mr. Penumbra é apenas uma livraria comum? Ou será que ali viviam segredos que poderiam abalar as estruturas do mundo contemporâneo?

 Personagens:

Clay é moderno, jovem e incapaz de se desvincular da Internet e do seu celular. É uma pessoa carismática, apaixonada pelas Crônicas da Balada do Dragão, nerd, criativo e muito sagaz em suas peripécias. É um protagonista bem inteligente e que consegue enxergar além daquilo que está evidente nos mistérios que achou na livraria. Ele e peça chave no enredo.

Há muitas referências nerds, como essa à Star Wars.

Mr. Penumbra é a dualidade de diversas gerações anteriores a atual geração Y. Ele confia plenamente no papel, livros e canetas e tem uma relação tardia com computadores, celulares e outras coisas modernas. Não é resistentes, mas alheio a esses avanços e por isso quando seu caminho se cruza com o de seu novo empregado, ele sente que seu segredo vai tomar um rumo antes nunca alcançado. Ele é um personagem inesquecível e cativante.

Kat Potente é uma personagem que causa sentimentos controversos quando entra em cena, porque ela é uma programadora(amei porque também sou) e trabalha no Google e por isso TODAS suas conversas giram em torno de tecnologia e avanços que possam trazer a tão desejada Imortalidade aos seres humanos. Ela é muito arrogante e prepotente(é como víssemos Tony Stark de saia) em muitos de seus discursos e incapaz de aceitar tranquilamente opinião alheia e por isso quando ela se envolve com Clay fiquei irritada, porque o livro não precisava de um romance como tema de segundo plano, o tema da dualidade Antiguidade e Modernidade já é suficiente para o livro se desenvolver.

Mat é um artista incrível nos efeitos visuais e especiais. A precisão técnica que o autor descreve os processos criativos e de execução do trabalho do personagem nos deixam encantados e nos ajudam a valorizar mais o trabalho de profissionais como ele que dão vida a filmes baseadas em grandes efeitos visuais. Por último, temos Neal que é um apaixonado pelos mesmos livros de Clay, RPG e Inteligência Artificial, área que ele se especializou e ficou milionário. Ele é divertido, perspicaz e com muito feeling para negócios.

Desenvolvimento:

O enredo gira em torno de uma suposta sociedade secreta que frequenta e sustenta a livraria do Mr. Penumbra e a busca incessante de Clay para confirmar essa suspeita e nessa empreitada louca ele envolve diversos amigos que são profissionais que são oriundos da tecnologia.

A discussão principal da obra é o comportamento humano diante os avanços tecnológicos que transformaram a geração Y na geração mais bem informada e leiga ao mesmo tempo da história da humanidade. O livro traz subtemáticas como os profissionais atuais que trabalham com designer, jogos, IA, Aprendizagem de Máquinas, supercomputadores, programação paralela, efeitos especiais e tantos outros que ainda são pouco conhecidos e até vistos erroneamente como "deuses". Eu sou programadora e digo que programar não é tão complexo. É só linguagem e um pouco de lógica matemática.

"Um atendente  e uma escada e uma luz dourada quente, e então: o livro exatamente certo, no tempo exatamente certo." p.288

A livraria é o melhor símbolo desse debate atual entre o Antigo e o Moderno. Livros de papel hoje concorrem com leitores digitais, como o Kindle e há anos discutem se um dia todo nosso conhecimento estará dentro de enormes banco de dados ou de nuvens cibernéticas. O tecnológico não substitui o antigo. Ele apenas aprimora. Mudam-se ferramentas, mas não quem as faz.

A linha que o autor trabalha é dolorosamente necessária, porque temos sido uma geração que luta por tudo, mas pouco muda, pois discutimos interminavelmente, entretanto sem qualquer resultado. Se eu lhe perguntasse agora por que continuamos morrendo incansavelmente por doenças simples, causas mentais e afins numa sociedade altamente avançada? Será que nosso pensamento e comportamento ainda não é ARCAICO?

Final:

O desfecho do enredo pode ser visto de duas formas: No quesito temas abordados ele terminou de forma correta e esperada. Já pela tensão dos acontecimentos e o grande suspense alimentado, o final foi bem decepcionante.

Podemos imaginar que o autor justamente quis mostrar nossa mania de criar imensas expectativas em torno de algo. Só lembrar que imaginamos que em 2020 teríamos carros voadores, mas pergunto: por que precisamos de carros voadores? por que necessitamos de tanta complexidade se somos simples e previsíveis?

Considerações Finais:

A capa é meu amorzinho, porque condiz demais com as descrições do lugar de grandes conspirações e o efeito neon nos 24 horas dar um destaque perfeito na obra. Fonte grande e folhas amareladas.

A Livraria 24 horas do Mr. Penumbra é uma viagem da Antiguidade ao Presente. É uma caminhada de reflexão sobre tecnologia e humanidade e que ganhamos de bônus grandes mistérios que envolve teorias da conspiração e sociedades secretas.

Título: A Livraria 24 horas do Mr.Penumbra
Autor: Robin Sloan
Editora: Novo Conceito
Ano: 2013
N° de Páginas: 288
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