[Resenha] O Verão das Bonecas Mortas - Toni Hill

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Título: O Verão das Bonecas Mortas #1
Autor: Toni Hill
Editora: Tordesilhas
Ano: 2013
N°de páginas: 376
Sinopse:
Um romance policial que acerta em cheio ao construir uma trama instigante, com personagens complexos, atmosfera envolvente e muitas reviravoltas. Com um protagonista forte e bem construído, a trama conta também com personagens secundários que pouco a pouco ganham luz e ajudam a iluminar dois mundos diferentes na mesma cidade: um mundo de gente rica e privilegiada em contraste com o universo do tráfico de mulheres e de contraventores de pequeno porte.


 
O Verão das Bonecas Mortas sem sombra de dúvida foi a melhor surpresa do ano em quesito de leitura. Toni Hill mostra que um enredo cheio de detalhes não é uma perda de tempo, mas uma das peças-chaves para um suspense eletrizante e viciante.


Héctor Salgado é detetive (inspetor) na Delegacia de Investigação na linda cidade de Barcelona e está retornando após um bom período ao seu trabalho rotineiro, mas não do mesmo jeito de antes. O Detetive fora afastado de suas funcionalidades após uma agressão contra um médico criminoso – Dr.Omar – que atendia mulheres vinda da África para serem prostitutas ao invés de verem seus sonhos de melhor qualidade de vida serem atendidos.



“ Do corpo mutilado de Kira emanava uma sensação perversa e macabra impossível de descrever ou de explicar com palavras. Algo que pertencia ao território dos pesadelos. ”

O detetive nunca teve um acesso de fúria desse modo, porém foi tomado pela raiva quando soube que aquele homem ajudava mulheres flageladas a colocarem um “ponto final” em suas vidas e isso despertou em Héctor uma ira indomável que consequentemente fora taxado de “irado”. Com isso, todos olham para ele com pena e medo do que ele pode fazer e isso tem gerado uma frustração no inspetor que perdera sua esposa Ruth há poucos meses. Não a morte de sua esposa, mas uma separação dolorosa. Ruth agora estava envolvida com uma mulher e levará seu filho consigo. Héctor apenas assistiu sua vida desmoronar e apenas a pequena esperança que seu chefe Savall deposita nele é que o mantém acreditando em seu trabalho.


Seu primeiro trabalho após sua volta é um caso que precisa ser urgentemente arquivado. O suicídio de Marc Castell, um jovem de 20 anos que fora encontrado morto no terraço da casa de sua família após uma noite de bebedeira com seus amigos Aleix Rovira e Gina Martí. Nessa noite Marc e Rovira brigam por um motivo que só saberemos na metade do livro, mas que é essencial para o desfecho dessa morte.

O delegado Savall ainda mantém esse caso em aberto pela sua amizade com Joana Vidal, mãe de Marc e que nunca conviverá com seu filho, pois nunca esteve preparada para ser mãe. Mas ela tem certeza que seu filho não se matara e que há muitas coisas ocultas e que necessitam ser reveladas para que a verdade venha à luz e para que saiba que não foi culpada da morte do filho, já que sempre recusara manter contato com ele.

Héctor começa seu trabalho juntamente com a novata Leire Castro que é uma mulher forte, independente e talentosa, porém vem tendo dúvidas se conta ou não para Tomas que está grávida dele. Não estava em seus planos ser mãe agora. O experiente detetive acaba se aperfeiçoado pelo trabalho eficiente da novata e juntos conseguem descobrir “pontas soltas” nesse quebra-cabeça macabro do suicídio de Marc e que se complica quando Gina Martí é encontrada morta na banheira de sua casa e com uma carta suicida encontrada em seu computador. Todavia, há algo estranho. Por que Gina se matou? Será que foi culpa acumulada? Será ela a assassina de Marc? Ou será que existem mais pessoas por detrás desses aparentes suicídios?

Enric Castells, pai de Marc quer que as coisas sejam resolvidas rapidamente e tem quase certeza que a ex-namorada de seu filho, Gina, fora a culpada da morte de Marc. Só não sabe se fora motivo dele se matar ou se ela o empurrara da janela de seu quarto para morte.

Aleix o outro amigo de Marc é perseguido por Héctor e Castro porque descobriram várias informações sobre ele e isso tem contribuído para que o jovem se torne um dos principais suspeitos dos acontecimentos macabros que se acometeram sob seus amigos.

Em paralelo a isso o outro caso que Héctor fora afastado parece mais carregado de mistérios do que antes. Dr.Omar fora assassinado e tudo indica que o detetive é o culpado. Será que Salgado fora mesmo o culpado da morte cruel de Omar? Por que logo esse homem fora encontrado morto no apartamento debaixo de Héctor? Muitas coisas começam a ser desenroladas para os leitores durante todo o livro, mas confesso que nada é entediante. Hill tem um talento nato com as palavras e as escolhem perfeitamente, porque é uma armadilha apetitosa para os apaixonados por suspense.

Os personagens são estupendamente bem desenvolvidos. Héctor Salgado é um homem maduro e cheio de decepções em sua vida. Sempre fora um profissional excepcional e correto, mas agora fora marcado como um homem de ira incontrolável e destituído de autoconfiança diante de suas decisões e isso afeta sua postura diante da vida. Porém, ele é competente e sensível em seu trabalho e me afeiçoei por ele rapidamente.

Ruth, a ex-esposa de Salgado é um mistério durante todo esse livro e é objeto de investigação no próximo livro. É uma mulher de liberdade incondicional, prática, apaixonada por seu filho com Héctor, artista nata e dona de um passado obscuro e que virá às claras em Os Bons Suicidas.


“[...] com aqueles grandes olhos castanhos que sempre atravessar a pele. Um olhar que havia desmascarar pequenas mentiras e outras não tão pequenas que ele quisera acreditar. ”

Leire Castro torna-se personagem essencial em todo o livro, pois tem uma intuição infalível diante as circunstâncias e por esse feeling teremos várias descobertas com o caso dos suicidas amigos e serão reveladas verdades de pessoas que nunca foram suspeitas, trazendo um final chocante e impensável.

“ O corpinho molhado de Íris, seus lábios azulados. As bonecas ao redor, como uma corte macabra. ”

Joana Vidal, a mãe de Marc é uma mulher tediosa. Não compreendi ela em nada. Não existe justificativa para não ter sido uma mãe presente na vida de seu único filho e isso piora quando Irene Alonso, irmã da falecida Íris Alonso reaparece para dar declarações assustadoras e cruéis sobre um verão que aconteceu há muito tempo, na qual sua irmã fora encontrada morta numa piscina sendo cortejada por bonecas macabras na água e Marc fora o primeiro a encontrar Íris morta e o que tudo indica é que não fora um simples suicídio, mas envolvimento direto do tio de Marc, o padre Félix naquele verão assustador e mal contado.

Gina que virou uma vítima em poucos capítulos, era uma jovem indecisa e com autoestima baixa, pois não se achava bonita e nem inteligente e sempre fora manipulada pelo sarcástico e prepotente, Aleix Rovira, um jovem bonito, rico e sem noção. Se acha o deus grego e metido a esperto e por isso se dá mal quando a agente Leire Castro descobre o que ele anda fazendo de errado e o confronta com a verdade. Que verdades serão essas? O que será que Leire descobriu que deixou Rovira tão assustado e impotente?


“Como havia dito o professor Esteve, Aleix Rovira podia ser um rapaz encantador. ”


O livro é perfeitamente bem construído e não existe momentos mornos durante a narrativa e os acontecimentos são detalhadamente apresentados aos leitores de forma coesa e exuberante. Toni não peca em suas ideias macabras e alguns momentos o ânsia tomou conta da minha boca, porque a verdade é bruta e cruel nesse livro e aviso para descansarem quando lerem alguns acontecimentos viscerais e aterrorizantes.

O Verão das Bonecas Mortas é o primeiro volume de uma série que emana uma áurea tensa e atrativa aliada a uma construção narrativa sofisticada e brilhantemente detalhada. O espanhol Toni Hill veio para mostrar que não vimos ainda ideias originais nesse gênero que é apaixonante e recomendado para pessoas que não se abalam facilmente com brutalidade e crueldade sem amortecedores.




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