[Resenha] O Sorriso da Hiena - Gustavo Ávila

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Título: O Sorriso da Hiena
Autora: Gustavo Ávila
Editora: Independente 
Ano: 2007
N° de páginas: 304


Sinopse:
Atormentado por achar que não faz o suficiente para tornar o mundo um lugar melhor, William, um respeitável psicólogo infantil, tem a chance de realizar um estudo que pode ajudar a entender o desenvolvimento da maldade humana. Porém, a proposta feita pelo misterioso David coloca o psicólogo diante de um complexo dilema moral. Para saber se é uma pessoa má por ter presenciado o brutal assassinato dos seus pais quando tinha apenas oito anos, David planeja repetir com outras famílias o mesmo que aconteceu com a dele, dando a William a chance de acompanhar o crescimento das crianças órfãs e descobrir a influência desse trauma na vida delas.Até onde ele será capaz de ir? É possível justificar um ato de crueldade quando, por trás dele, há a intenção de fazer o bem?

“Um instante depois, Pedro estava com as costas no chão e o invasor mascarado sobre o seu peito forçava o alicate dentro de sua boca. Pedro virava a cabeça para um lado, depois para o outro, os olhos abertos, esbugalhados, mas não conseguia resistir por muito tempo. Depois de alguma dificuldade, o alicate ultrapassou a barreira dos dentes cerrados, grampeou a carne flácida e a lâmina afiada da faca deu conta do resto. Sua língua havia sido arrancada” 

O livro já começa com uma cena bem forte, onde um garotinho de oito anos está amarrado numa cadeira e tem diante de si mais duas onde estão seu pai e sua mãe. Nessa cena temos um homem que invadiu a casa dizendo a todo tempo que “ninguém gosta de linguarudos” até que arranca a língua do homem e em seguida o mata como também a mulher ao lado tudo na frente do garoto. Impotente e completamente transtornado com o que virá, o garoto fica lá imóvel enquanto o assassino vai embora.


24 anos depois nos deparamos com acontecimentos iguais a esse onde pais são mortos na frente de seus filhos sem nenhum motivo aparente e sem ligação alguma. A única semelhança é que o assassino escolhia apenas crianças de 8 anos. É quando conhecemos um dos núcleos da história, que é o personagem Arthur. Sagaz, inteligente e com um raciocínio incomparável, Arthur sofre de Sindorme de Aspergh que o faz levar tudo ao pé da letra e com um humor irônico. Como detetive da cidade ele acaba recebendo o caso e investiga quem está por detrás dos assassinatos.

Preocupado com as crianças e sendo elas as únicas testemunhas dos massacres ao qual podem identificar o suspeito, Arthur às leva para um psicólogo chamado William.

Famoso por uma tese onde estudará “Como se Tornar Adultos” Willian mantém uma relação aparentemente satisfatória com sua esposa e leva uma vida sossegada, mas ainda pulsa em seu peito o desejo de fazer muito mais pelas pessoas em virtude de algo ocorrido no início de sua carreira. Ajudar às pessoas sempre fora algo feito com amor, e sua gama por isso só cresce a cada dia. De início as crianças são temerosas e ainda estão assustadas pelo o ocorrido, mas depois de muito acabam arrancando delas que fora um homem com uma mascarada, até que elas descrevem o desenho que a máscara possuía, o rosto de um homem.


Em paralelo conhecemos o assassino que se chama David, e fiquem tranquilos que isso não é spoiler pois na sinopse do livro e nas primeiras páginas já sabemos disso. O motivo do assassinato é que é desconhecido do leitor. Ele é uma grande admirador do trabalho que William desenvolvera “Como se torna Adultos” e está atrás de uma resposta e quer usar Willian como ponte. Ele quer saber se uma pessoa se tornar má pelo que ocorre de ruim ao longo de sua vida, ou se ela já nasce para ser maldosa. Ele acaba mandando e-mails para Willian dizendo que é o assassino e que precisa de sua ajuda. Fala que fará mais assassinatos e que ele William teria que acompanhar essas crianças de perto para que sua resposta fosse respondida.

William fica num beco sem saída. Ele não quer permitir que isso ocorra novamente, mas parte dele anseia por isso e acha que seria um trabalho primoroso onde enfim poderia colocar seus pensamentos em prática e desenvolver mais um livro falando “Como se tornar Adultos”. De início ele diz que seria algo que traria esperanças para a população e diante da resposta encontrada poderiam evitar tantas atrocidades e rever os conceitosde criação das crianças.

É um livro que ti deixa angustiado. Além se levantar questões tão polêmicas como essa, ele nos faz pensar sobre a real proposta que o autor quer com este livro: É possível justificar uma crueldade, quando por trás disso há a intenção de fazer o bem? Digo com propriedade que esta resposta é muito bem respondida no livro, mas que mesmo assim ainda perturba quem ler.


Ficamos completamente de mãos atadas. Em parte sabemos que isso tudo é errado, está acabando com a vida dessas crianças que não crescerão com seus pais, mas que em parte se analisarmos direito seria algo promissor e ao mesmo tempo poderia se evitar tantas coisas a partir daquele ponto.

O livro foi maravilhosamente bem desenvolvido e com um lógica surpreendente. Gustavo Ávila sabia o que estava fazendo e sabia onde queria chegar, e chegou acertando em cheio. O enredo possui tudo aquilo que um livro de sucesso tem que ter. Personagens muito bem criados, cenas muito bem desenvolvidas, diálogos muito bem irônicos e inteligentes, narrativa muito voraz que prende o leitor, assim como uma ascendência de acontecimentos que vão deixando o leitor a cada página mais grudado e querendo saber do final.

A questão do vaso de flor que o assassino mandava sempre dois dias depois que invadia e matava os pais das crianças é algo que de início não chama atenção e você acha que dará em nada, mas que quando descobrimos ficamos de boca aberta.

O livro é uma publicação independente e por enquanto só se consegue o livro direto pelo site do autor. Acabei me interessando pelo mesmo por conta de dois booktubers, o Victor do GeekFreak e a Ju do Nuvem Literária, eles falaram Tão bem que logo comprei o livro. Mas logo logo o livro será relançado pela editora Verus que viu o grande talento e potencial do autor e decidiu investir nele. Só espero realmente que mantenham essa capa por que está muito linda.

O título em si pode não significar nada, mas quando você ler e presta atenção nos detalhes, outro título não seria tão bom quanto este.

Se tornou um dos meus livros favoritos e não vejo a hora de relê-lo.








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