[Resenha] Contos de Imaginação e Mistério - Edgar Allan Poe

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Título: Contos de Imaginação e Mistério
Autor: Edgar Allan Poe
Editora: Tordesilhas
Ano: 2012
N° de Páginas: 421

Sinopse:
1917. O exímio artista irlandês Harry Clarke se encarrega de um dos trabalhos que determinariam sua fama: a ilustração do clássico de Edgar Allan Poe, "Contos de Imaginação e Mistério". Preparada pela editora Harrap e publicada em Londres em 1919, a edição foi reconhecida imediatamente como uma das joias bibliográficas da época.Desde Então, os desenhos de Clarke continuam exercendo um estranho magnetismo, fruto de uma bela e trabalhosa execução que honrou as histórias sublimes que a inspiraram.Essa edição lendária é retomada aqui com o prefácio de Charles Baudelaire sobre o autor.
"Cada um dos contos policiais de Poe é uma raiz da qual desabrocha uma literatura inteira[...] O que eram os contos policiais antes que Poe aparecesse e soprasse vida neles?"Arthur Conan Doyle
"O homem e sua obra, ambos ocupam um lugar importante na história da fantasia, pois Poe criou um gênero diferente, sem precedentes, e, me parece, levou o segredo consigo. Podemos chamá-lo de 'chefe da escola da estranheza'."Júlio Verne


Contos de Imaginação e Mistério é uma coletânea de contos que trazem suspense, transcendentalismo e uma paixão pela Morte que eram marcas claras das temáticas abordadas por Poe.


No conto O Gato Preto – meu favorito – temos uma história esdruxula contada por um homem que se diz que sempre fora dócil, gentil, amoroso e bondoso com as pessoas. Em nenhum momento de sua vida tivera vontade de machucar qualquer ser vivo e nunca fora tomado pela cólera e o ódio. Casou-se cedo e dividira a vida com uma esposa que compartilhava sua paixão pelos animais. Ela trazia os animais mais adoráveis para seu lar. Eles tinham os mais variados animais e um gato. Esse chamado de Pluto e que seria de fundamental importância na revelação da verdade dessa história.

“[...] E então sobreveio, como para minha ruína final e irrevogável, o espírito da Perversidade.”

Esse conto é um dos mais famosos enredos de Poe, porque traz perspicácia sobre como o desfecho da história se dará, já que o mesmo – narrador – está tentando esconder um fato e um dos personagens o delata para as autoridades. Outro ponto de O Gato Preto é a discussão sobre conhecer a si mesmo e saber até onde somos capazes de surpreender aos outros e principalmente a si mesmos, porque muitas vezes afirmamos não sermos capazes de machucar outro ser humano, porém não conhecemos profundamente nossa essência e tendência natural.


Em Os Fatos do Caso do Sr. Valdemar nos deparamos com a teoria do Mesmerismo que é abordado em outros contos do nosso escritor. Ele fala sobre um homem – Valdemar – sabendo da curiosidade e estudos do nosso narrador, chamou o mesmo para testar suas teorias em seu corpo que se aproximava cada dia mais da Morte. Nosso narrador ficara completamente extasiado, porque poderia lidar com a manipulação de uma pessoa momentos antes de falecer e transcender. O Mesmerismo se baseava na indução do moribundo através de técnicas que utilizam da influência magnética para conversar com o mesmo e extrair dele verdades ou corroborar suposições a cerca da etapa pré-morte.

“– Sim; - não; - eu estava dormindo – e agora – agora – estou morto.”

O Coração Denunciador tem um homem perturbado, cheio de temores noturnos e sendo tomado pouco a pouco pela loucura. Ele mora num quarto de aluguel e tem como vizinho um senhor de idade que na mente dele é um “inimigo” e foi enviado para perturbar sua paz. Entre alucinações e perturbações insanas é tomado por uma teoria da conspiração que o levará a perder o controle de seus pensamentos e possivelmente sujar suas mãos de sangue inocente.


Poe nos leva a um passeio atraente sob a linha tênue que separa a Sanidade da Loucura. Proporciona-nos o passo a passo de como as paranoias se instalam na mente humana e começam a dominar seus pensamentos e perigosamente a controlar ações e posicionamentos emocionais.

“Tudo em vão; porque a Morte, ao dele se aproximar, acossara-o com sua sombra negra, e se lançara sobre a vítima, envolvendo-a.”

Ligeia e Berenice são contos que trazem personagens femininas. Na primeira história temos um romance que transcende a esfera terráquea e repousa no plano espiritual. Edgar nos lembra que o Amor ultrapassa as barreiras físicas e principalmente o tempo e somente ele pode unir ou simplesmente destruir outras. O Amor é construtor e consumador do caos. Em Berenice nos deparamos com uma admiração que se transformou em terror. Nosso narrador sempre fora uma criança acometida por vários aprisionamentos sociais e médicos que o faziam ficar enclausurado em sua casa, mas ele admirava a vivacidade e a alegria que sua prima Berenice exala por onde passava, porém um dia essa jovem linda, cheia de amor e bem-estar foi acometida por uma mudança extrema em seu estado de saúde. Tornou-se atormendada, debilitada e insana.

“[...] Ai de mim! O destruidor veio e partiu, e a vítima – onde estava ela? Eu não a conhecia – ou não mais a conhecia como Berenice.”

Os mais famosos contos de Poe também compõem essa obra: O Escaravelho de Ouro que fala de uma busca incessante por um escaravelho que nada mais que a representação da ganância e vaidade humana. Além desse temos, Os Assassinatos da Rua Morgue e O Mistério de Marie Roger que nos apresentam o talentoso e invejável detetive Dupin. São puro suspense e a ciência da dedução usada pelo meu amado Sherlock Holmes.


A coletânea é excepcional, porque traz os melhores contos do ilustríssimo Edgar Allan Poe aliados as ilustrações maravilhosas de Henry Clarke que nos presenteia com desenhos que captam de forma perturbadora as temáticas abordadas por Poe.

A capa removível que traz ilustrações de Henry é linda e combinada muito bem com o preto da capa fixa e as letras em fonte agradável.


Poe nos surpreende em sua capacidade de transformar a Morte em sua amiga pessoal e principalmente de mostrar seus infortúnios através de seus contos e poemas e que em muitos momentos escrever era a única forma de externar ao mundo seu sofrimento e solidão que viveu nos últimos anos de sua vida.


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