[Resenha] O Perfume da Folha de Chá - Dinnah Jefferies

15 comentários
Título: O Perfume da Folha de Chá
Autora: Dinnah Jefferies
Editora: Paralela
Ano: 2017
N° de Páginas: 432

Sinopse:
Em 1925, a jovem Gwendolyn Hooper parte de navio da Escócia para se encontrar com seu marido, Laurencek no exótico Ceilão, do outro lado do mundo. Recém-casados e apaixonados, eles são a definição do casal aristocrático perfeito: a bela dama britânica e o proprietário de uma das fazendas de chás mais prósperas do império. Mas ao chegar à mansão na paradisíaca propriedade Hooper, nada é como Gwendolyn imaginava: os funcionários parecem rancorosos e calados, e os vizinhos, traiçoeiros. Seu marido, apesar de afetuoso, demonstra guardar segredos sombrios do passado e recusa-se a conversar sobre certos assuntos. Ao descobrir que está grávida, a jovem sente-se feliz pela primeira vez desde que chegou ao Ceilão. Mas, no dia de dar à luz, algo inesperado se revela. Agora, é ela quem se vê obrigada a manter em sigilo algo terrível, sob o preço de ver sua família desfeita.
O Perfume da Folha de Chá é um romance histórico maravilhosamente cruel e cruelmente belo. Não feito para arrancar suspiros, mas possuído do dom de nos fazer derramar muitas lágrimas.


1925 no Ceilão – atual Sri Lanka – a jovem britânica Gwendolyn Hooper, recém-casada com o dono de fazendas e produtoras de chá da região, Laurence, está à espera do carro do seu marido para chegar ao seu novo lar no Oriente. Quando ele demora a aparecer, o senhor Savi Ravasinghe lhe oferece companhia, já que Gwen transparece não pertencer aquele lugar com seu tom de pele claro, olhos quase violetas, magra e bem vestida. O Sr. Ravasinghe é salvação, pois seu marido está muito ocupado e não pode busca-la. Ela está ansiosa para conhecer sua nova casa que é o início de sua nova vida ali.

Chegando à mansão Hooper, Gwen sente-se feliz por está casada com Laurence. Os dois formam um casal apaixonado e perfeitamente aristocrático: ela, a jovem britânica que nunca teve que dificuldades financeiras e ele um proprietário de uma das fazendas de chá mais prospera do Império, mas a ausência de Laurence e seu distanciamento emocional não eram presentes na Inglaterra e ela terá que conviver com isso diariamente, já que sempre sonhou em se casar e ser uma esposa e mãe maravilhosa.

“ Ela havia se sentido perdida sem ele, mas Laurence estava voltando a ser como era, e a alegria de Gwen com isso era incontrolável.”

Gwen tem um dilema em suas mãos: O Ceilão sofre com problemas culturais que separaram os cidadãos em extremos opostos. Os Tamises que são os estrangeiros que vieram da Índia para conseguir emprego no Ceilão e não possuem direitos como os cingaleses. Os funcionários da fazenda de seu marido trabalham em condições sub-humanas e ela não pode tomar partido, porque causaria problemas sérios para a renda de seu marido.

 Outro dilema enfrentado por ela é os vizinhos fofoqueiros que parecem torcer pela desgraça do seu casamento, já que Laurence perdeu sua esposa há 12 anos antes de conhecer Gwen. Vivendo com isso mais a instabilidade emocional de seu marido, que uma hora é amoroso e protetor e momentos depois está afundado numa tristeza visível, porém não permite externar suas angústias. Os empregados da mansão parecem silenciosos e não falam nada sobre Caroline – a esposa falecida – e de Verity, a irmã de Laurence que vive grudada no irmão e é sustentada através de uma mesada bem gorda dada pelo irmão.

Entre vários problemas que rondam sua vida no Ceilão a aparição de Cristina é a pior. A americana já teve um caso com Laurence após a morte de Caroline e parece decidida em colocar em crise o casamento de Gwen e seu marido. Com apenas 19 anos, ela terá que aprender a lidar com problemas que fazem parte da misteriosa Família Hooper.

“Quando as pessoas eram bem tratadas, geralmente respondiam com o mesmo tratamento.”

Um tempo se passa e Gwen descobre que está grávida. O marido não se aguenta de tanta felicidade. A gravidez é de gêmeos. A felicidade cresce em todos. Naveena – aia da casa há anos – é a ama da mansão, mulher de confiança e que fica ao lado de sua patroa todo tempo. Gwen manda limpar o quarto dos bebês e se depara com uma pintura de Caroline no quarto. Opta por não apaga-la, mas conserva-la.

O dia chega e o Dr. Partridge não atende ao telefone. Laurence viajou. Verity saiu. Naveena age como uma parteira e ajudar sua patroa a trazer ao mundo seus filhos. Naquela noite, a vida de Gwen mudaria e uma decisão arriscada e inevitável foi tomada trazendo um tormento sem precedentes nos anos que viriam para si e sua família.

O que será que aconteceu naquela madrugada? Será que Gwen deu a luz a duas crianças? O que ela fez que mudou toda sua vida? Por que Laurence não contava tudo que o angustiava? O que Cristina ainda queria com o esposo de Gwen? Por que a irmã de Laurence ainda não casara e saíra das asas de seu irmão?

Perfeitamente arrasador e maravilhoso.

O Perfume da Folha de Chá é aquele livro que começa morno e algumas páginas depois começa a apresentar segredos ocultados que são os pontos cruciais do enredo e quando revelados destruirão diversos corações e detentores de um poder inimaginável de quebrar a confiança em relacionamentos e levar as pessoas à loucura.


Gwen é aquela jovenzinha que no começo parece ser como a Anabelle de Segredos de uma noite de verão que foi induzida a acreditar que apenas no casamento há felicidade plena e proteção social. Com o andar da história, ela amadurece e mostrando-se forte e centrada, porém apresenta pontos de extrema delicadeza quando o assunto é seu marido e seu posicionamento diante o tratamento dos funcionários da fábrica de chá. Ela vai ficando cada dia mais poderosa com o apoio silencioso de Naveena, porém seu equilibro desaba quando uma decisão extremamente perigosa é tomada na noite que ela dar a luz. Naquele dia seu futuro estava sendo selado para um sofrimento extremo e doloroso que arrancaria de nós, lágrimas e mais lágrimas.

“Você é importante demais para mim, Gwendolyn. Nem sempre sei expressar meus sentimentos, mas espero que você saiba disso.”

Laurence é um homem que não sei dizer o que sentir por ele. No começo o achei muito frio e metódico e não acreditava no seu amor por Gwen. Com o decorrer do enredo, ele foi mostrando-se mais amoroso e cuidadoso com sua esposa. Ele a amava de verdade, porém era perturbado pelo seu casamento com Caroline que foi rompido tragicamente com a morte dela. Os fantasmas daquela época se juntaram com o de Gwen e são os que assombram os leitores nesse livro. Esse homem sofreu demais, todavia errou profundamente quando escondeu emoções reprimidas, sentimentos e verdades que poderiam ter evitado a desgraça que foi a decisão de Gwen.

Verity é a irmã de Laurence e que terminei a leitura e a odiei com todas as forças. Ela sofreu quando seus pais morreram, porque era pequena e apegou-se ao seu irmão, mas era um grude sem tamanho e ela consegue reverter todas as situações ao seu favor. Manipuladora nata e uma víbora de veneno mortal.


Cristina é uma mulher que não sabe perder e deixa isso claro quando fica perseguindo Laurence para cima e para baixo, despertando os ciúmes e a ira de Gwen. Ela gosta de ser o centro das atenções e não aceita uma negativa nunca, o que a torna uma personagem inesquecível e até adorável em alguns momentos, porém NUNCA confie nela. Quando digo nunca, é nunca mesmo.

Naveena é aia da casa dos Hoopers desde que Laurence e Verity eram crianças e ela sabe de tudo e todos ali, mas NUNCA diz nada sobre isso. Ela é de extrema confiança e aparenta ser uma mãe silenciosa para Gwen e é ela que ajuda a sua patroa a conviver coma decisão mais difícil da vida dela. Essa mulher é amorosa, carinhosa e companheira e nunca sairá da minha lista de melhores personagens.

“Compreendeu que um lar não era apenas um lugar. Era sua relação diária com tudo o que tocava, via e ouvia.”

A história é fluída e demorei em ler, porque não queria que terminasse. Não conseguia me desprender da dor constante de Gwen. A autora consegue através da narração em terceira pessoa nos passar o sofrimento e o tormento dessa mulher. Depois do nascimento do filho do casal, a dor era constante nos olhos de Gwen, mas ela convivia aparentemente normal para ninguém descobri o que poderia ser a ruína de sua vida.

Paralelo a isso, temos as relações sociais delicadas e explosivas que eram feitas pelos britânicos que ainda dominavam a Índia e o Ceilão naquela época. Tensões e revoltas clamando por direitos e melhor qualidade de vida é o plano de fundo do livro que vai além mostrando a Grande Depressão da Bolsa de Valores nos EUA e os prenúncios da Primeira Guerra Mundial com a política do inescrupuloso Hitler.

O amor de Gwen e Laurence é verdadeiro, mas passará pelo fogo mais ardente visto por mim em romances: segredos, medos, verdades ocultas e decisões extremas.

Esse livro mexeu com minha alma e coração. Estou escrevendo essa resenha com o coração em frangalhos e lágrimas lavando o rosto. Não foi fácil termina-lo quando faltavam 100 páginas para o fim. A dor de Gwen era minha dor. É como se a autora nos transforma-se nela. Você se torna aquela mulher que teve que fazer uma escolha vergonhosa para sobreviver e pode ser julgada de forma precipitada por todos, mas somente ela sabia o que era conviver com a culpa e a punição que venho da forma mais cruel possível.

Existem livros que são lidos e facilmente esquecidos, mas O Perfume da Folha de Chá é aquela rara safra que traz fatos históricos e uma história cruel que se desenrola nesse plano de fundo. Assim como Toda Luz que não podemos ver, esse livro marca um trabalho magnífico que deixará uma dor latente nos corações dos leitores que se deliciarem e sofrerem com a vida de Gwen Hooper.

A capa é uma captação harmoniosa da fazenda onde fica a casa dos Hoopers e a modelo parece demais com a Gwen. A fonte usada é muito boa e lembra a usada em livros históricos.

Se vocês quiserem um livro que choca pelo enredo maravilhosamente visceral e cruel e que surpreende com a importância de não sermos movidos por sentimentos e emoções reprimidas e nunca ser levados por medos vindos do passado, recomendo a leitura do O Perfume da Folha de Chá.


Comentário(s)
15 Comentário(s)