[Resenha] Quando é inverno em nosso coração - Américo Simões

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Título: Quando é inverno em nosso coração
Autor: Américo Simões || Romance do Espírito Clara
Editora: Petit
Ano: 2017
N° de Páginas: 352

Sinopse:
Clara e Amanda são irmãs que cresceram num lar europeu, do final do século 19, quando os casamentos ainda eram arranjados pelos pais. Clara é apaixonada por Raymond, o jardineiro da família. Por ser a filha mais velha, se vê obrigada a se casar com o rico Raphael. Porém, às vésperas de suas bodas é acometida por uma doença desconhecida que a deixa à beira da morte. Para não interromper o acordo entre as famílias, Amanda se casa no lugar da irmã. Mas a troca das noivas não é bem recebida por Raphael, já que havia se apaixonado por Clara. O rapaz não supera a decisão, alheia à sua vontade, e passa a desconfiar de que a doença repentina da jovem é puro fingimento para evitar o matrimônio. Essa paixão não correspondida e um segredo inviolável marcarão para sempre a vida da jovem Clara e de todos que a rodeiam.


Quando é inverno em nosso coração é um romance espírita que nos mostra que toda ação tem um reação mesmo que não percebamos que refletir antes de agira é essencial para boas escolhas e evitar sofrimentos.

Clara e Amanda Bellmonte são as filhas do rico Ernest Bellmonte. Eles moram em algum lugar da Europa – desconfio que seja França ou Espanha – e tem uma família linda e unida depois da morte das meninas. Amanda é a filha mais nova, mas acabou se tornando uma mãe para Clara que sempre se mostrara uma jovem frágil que poderia entrar em colapso facilmente.

“O tempo machuca, o tempo cicatriza, ensina, releva, amplia, o tempo transforma... Sim, tudo se transforma, não há como fugir, nem se prender na dor, na mágoa, no rancor e na ilusão material.”

Um dia Raymond Trust – garoto que perdeu tragicamente seus pais – é acolhido por Stella, empregada da casa e passa a trabalhar juntamente com ela para os Bellmonte. Ele torna-se rapidamente um amigo para Clara e Amanda. Os anos passam e o amor entre Clara e Raymond surge e Amanda aprova nitidamente esse romance. Seu pai que é materialista nunca aceitaria esse romance entre uma aristocrata e um plebeu, por isso tudo fica ocultado do patriarca, até que o destino aparece para mostrar suas garras cruéis ou apenas nos desafiar a lutar.

“A vida os pôs frente a frente mais uma vez na tentativa de dissolver o mal com o bem, destronar o mal e eleger o bem com o bem. E nada se leva ao bem senão pelo amor.”

Ernest Bellmonte prometera a mão de Clara em casamento para o filho do poderoso agiota Gregori. Em poucos dias, Raphael Monie estaria no Recanto dos Pássaros para fazer o pedido de casamento para a filha mais velha dos Bellmonte. Amanda que sempre fora sonhadora, espirituosa e forte clama para que sua irmã se rebele e não permita tamanha barbaridade, mas Clara é fraca e permite que seu pai cumpra com sua promessa com seu amigo.



O virtuoso e alegre Raymond é avisado por sua amada que o Destino queria que eles se separassem e o coração de ambos é destruído pelas armadilhas da vida. Ray não quer que Clara seja tirada dele e suplica pela desistência do acordo, mas a jovem já estava decidida a aceitar seu destino. Ela o amaria para sempre, porém se casaria com Raphael.

A vida que parece tecer juntamente com as Parcas, um destino com muitas dores, alegrias e reviravoltas que deixariam qualquer leitor deslumbrado fazem que Raphael se apaixone perdidamente por Clara e ver-se feliz com esse possível matrimônio, todavia o tecedor invisível queria que essa história fosse mais dura e com uma boa pintada de desconfiança e vingança, faz com que Clara fique doente e condenada à morte.

Nada poderia salvá-la de morrer em plena flor da juventude e Ernest que queria a todo custo que Raphael se casasse com uma das suas filhas, decide casa-lo com Amanda. A jovem fica radiante, porque o amou no momento que pousou seus olhos nele, porém Raphael já estava tomado pelo encanto celestial da outra irmã.

Após o casamento, Clara volta à vida misteriosamente. Ela goza de plena saúde e retorna para os braços de seu amado Raymond. A vida pelo visto tivera compaixão de todos e tinha abençoado com laços de amor, todavia nem sempre a felicidade pendura por muito tempo e um coração cheio de ódio, inveja e falta de perdão pode ser o apogeu de uma tragédia.

O que será que irá acontecer? Será que Raphael se conformou com o casamento com Amanda? E seu amor por Clara? Seria que descobriria que sua amada Clara sempre amara Raymond? Qual seria a atitude impensada que dará início a sucessão de acontecimentos trágicos que culminam em anos de sofrimentos? Quem fará isso?

O livro é uma obra cheia de lições maravilhosas que falam de perdão, amor, ódio, reflexão e principalmente sobre nossa tendência a ser manipulados por ideias torpes e malditas que corroem nosso ser e alimentam sentimentos ruins que abatem nosso coração e enfraquecem o espírito.

“O orgulho nada mais é que uma das facetas do nosso pensamento negativo, que sempre se finge de preocupado conosco, mas que no fundo só quer mesmo é nos espezinhar. É exatamente o que o orgulho faz com os orgulhosos.”

Amanda Bellmonte é uma jovem espirituosa, forte, valente, corajosa e pronta para amar e ser amada. Em nenhum momento ela desiste de quem ama. Ela parece inabalável e foi um grande exemplo para mim, porque em qual momento da nossa vida, nós estaríamos dispostos a receber injúrias de quem amamos, ao invés de palavras de amor? Em qual fase da maturidade temos que está para que aguentassem tudo com paciência e esperança?




Clara Bellmonte é a fragilidade em pessoa. Tudo que permitiu se viver como Clara foi reflexo do que fora na encarnação passada. Ela não sabia que estava repetindo atitudes que foram maléficas para ela e outras pessoas no passado e estavam novamente jogando-a para um poço de sofrimento e solidão e somente quando se libertasse do silêncio, é que encontraria paz e o amor que desejava há séculos.

Ernest Bellmonte e Gregori – pais de Clara e Amanda e pai de Raphael – são mesquinhos, avarentos, egocêntricos e materialistas. Tudo para eles é dinheiro. Dificilmente pensaram em suas famílias em primeiro lugar. Fazem tudo por papel e não percebem que seus espíritos estão jogados num caos mundano e imundo que fica longe da essência do plano espiritual.

“- Não pertenço a ninguém, Raphael. Será que a vida não o ensinou que você não pode possuir o corpo e a alma de outro ser humano?”

Raphael Monie é um personagem que desperta apenas raiva e piedade durante todo o decorrer do livro, porque é egoísta e cego para outras visões da vida. Suas atitudes são tomadas por uma paixão desenfreada por Clara e principalmente por não enxergar que o amor estava ao seu lado, na forma de Amanda.

Raymond Trust é jovem tomado de fúria e decepção com a vida. Ele era um garoto alegre e amoroso até a vida tirar o amor de sua presença. Ao perder Clara, ele se viu na sarjeta e sentiu-se injustiçada. Nesse momento, apenas o ódio e a vingança, o nutriam.

O enredo foi psicografado por Américo Simões e ensina com suavidade e em alguns momentos com uma pitada de brutalidade, porque não importa a fé que alimente nosso ser – dogma religioso – acreditamos que todo mal que plantamos também iremos colher o mal. É uma lei da Física que se aplica aos seres humanos com uma severidade divina.

Para o Espiritismo – isso que o livro foca e fica maravilhoso – nosso espírito precisa evoluir e por isso reencarna diversas vezes até alcançar as máximas qualidades que um espírito deve ter. Aqui o Cristianismo e o Espiritismo se diferem, porque para os cristãos o espírito fica em off até o Julgamento Final quando uma pessoa morre. Para os espíritas, o ciclo é repetitivo, o que é bem interessante e responde alguns pontos em nossas vidas, como a sensação de conhecer alguém mesmo sem a ter visto apenas uma vez ou nossa rejeição por outras pessoas sem explicação lógica ou simplesmente, sonhos que remetem a lugares nunca vistos, mas que despertam reconhecimento em nós.

“Compreender que não devemos nos proibir de amar novamente por medo de que tenhamos o mesmo desfecho é outra evolução para o nosso coração.”

Não é um romance para convencer o leitor ao Espiritismo, mas alertar que a vida deve ser vivida com sabedoria e principalmente com amor. Lembre-se que violência gera mais violência e somente o Amor pode dar fim em toda a crueldade, porém o perdão deve ser o caminho para se alcançar esse objetivo, porque não existe ato imperdoável.

A capa traz uma modelo que parece muito com Clara Bellmonte e isso me deixou feliz. A fonte é agradável e ajudou na minha leitura. O livro é narrado em terceira pessoa.

Quando é inverno em nosso coração é um romance que mostra que a vida sempre será dialética e antagônica, porque quer nossa evolução e maturidade.

“- Se na natureza é necessário que haja quatro estações para manter seu equilíbrio, o mesmo deve ser necessário em nosso coração.” 



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