[Resenha] A Rebelde do Deserto - Alwyn Hamilton

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Título: A Rebelde do Deserto
Autora: Alwyn Hamilton
Editora: Seguinte (Cortesia)
Ano: 2016
N° de páginas: 283
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Sinopse:
O deserto de Miraji é governado por mortais, mas criaturas míticas rondam as áreas mais selvagens e remotas, e há boatos de que, em algum lugar, os djinnis ainda praticam magia. De toda maneira, para os humanos o deserto é um lugar impiedoso, principalmente se você é pobre, órfão ou mulher.

Amani Al’Hiza é as três coisas. Apesar de ser uma atiradora talentosa, dona de uma mira perfeita, ela não consegue escapar da Vila da Poeira, uma cidadezinha isolada que lhe oferece como futuro um casamento forçado e a vida submissa que virá depois dele.

Para Amani, ir embora dali é mais do que um desejo — é uma necessidade. Mas ela nunca imaginou que fugiria galopando num cavalo mágico com o exército do sultão na sua cola, nem que um forasteiro misterioso seria responsável por lhe revelar o deserto que ela achava que conhecia e uma força que ela nem imaginava possuir.

 A Rebelde do Deserto dar início a uma série juvenil que trata sobre política, direitos femininos, governos opressores. sacrifícios por um bem maior mesclado com a mitologia do deserto e muita magia.
Amani Al'Hiza é uma jovem de dezesseis anos que tem três características nada agradáveis em Miraji: mulher, pobre e orfã. Perdeu a mãe muito cedo, porque a mãe fora acusada de ter se deitado com um estrangeiro - algo que fica evidente com os olhos azuis da jovem - que nada combina com a pele dourada e escura dos povos do deserto, como na Vila da Poeira. Seu pai nunca foi citado por sua mãe e pode ser qualquer soldado estrangeiro que forçara sua mãe a ter relações sexuais com ele. O maior desejo da jovem é sair da cidade esquecida pelo seu governante. Ela também não quer se casar - a força - com seu tio, porque sua tia já deixou bem claro que não a quer com seu marido. Seu único amigo nesse lugar que parece odiar Amani, é Tamid que ama o local e deseja ser Pai da Casa de Oração e talvez casar com sua melhor amiga.

Como nossa protagonista não nasceu para aceitar as coisas do modo que são impostas, ela arquiteta um plano e coloca em prática numa noite por puro impulso. Ela se veste de homem e se inscreve - com as economias de anos trabalhando no comércio do tio - num torneio de tiros. Ninguém sobrevive no deserto e numa cidade que produz armas sem saber atirar,mas mulheres não podem concorrer. Então ela vai passando maravilhosamente bem pelas fases eliminatórias e fica na final com um estrangeiro muito charmoso e que parece querer ajudá-la e a aposta da casa que pode ser encrenca para ela, caso vença, porque pode não sair viva de lá.

Acontece uma confusão no local e Amani quase é morta. Foi salva pelo estrangeiro que ela teve que deixar para trás. Ela sente-se mal, porque perdeu seu dinheiro e teve que retornar à sua casa. Só que no deserto tudo pode acontecer e nos desejos sempre se realizam em algum momento mesmo que não sejam feitos da forma mais simples.

O exército do sultão está procurando o famoso Príncipe Rebelde que anda colocando o povo contra o atual governante que na verdade é um tirano e ditador que tem entregado Miraji aos territórios vizinhos e com isso, o desconhecido estrangeiro acaba na quintada do tio de Amani. Ela sabe que ele é cilada, mas seu coração grita para que ela o salve dos soldados. Ela segue seus sentimentos e a partir daquele momento ela se vê diante uma força que une todos os oprimidos por Miraji: A Força Rebelde.

Quem será de verdade o estrangeiro? E por que ele foi justamente na loja do tio de Amani? Será que o destino ou seres primordiais tem um futuro grandioso para nossa protagonista?

Amani é uma personagem que choca com sua veracidade de características. Quantos de nós não desejamos também a saída de algum lugar que não nos sentimos bem? Ela segue seus instintos e principalmente seus sonhos e sentimentos. Ela sempre pesa as situações antes de agir, por mais que algumas vezes seja vista como ignorante - intelectualmente falando - ela consegue absorver rápido as entrelinhas políticas na qual seu país está. Ela pode se apaixonar, porém dificilmente colocará suas decisões a mercê desde amor. A autora evidenciou a quebra desse paradigma romântico que a morte e o sofrimento de muitos é menos importante do que o amor entre duas pessoas.

Nosso desconhecido estrangeiro é na verdade é um dos filhos do sultão - não é spoiler haha - chamado Jin. Ele é irmão do verdadeiro Príncipe Rebelde chamado de Ahmed. Jin é um personagem que desperta sentimentos conflitantes nos leitores, porque ele é mais emocional que a Amani. Ele apoia seu irmão em tudo, mas não gosta da sua cidade natal. Para Ahmed, Miraji é seu lar. Para Jin é apenas um lugar, onde seu pai destruiu a vida de todos e matou suas mães e destinou os dois ao exilamento.

 O cenário político colocado pela autora é de tirania e ditadura. A capital é um lugar rico e bem próspero economicamente, mas oculta uma Miraji falida e entregue totalmente ao bel prazer dos estrangeiros. O país é tipicamente uma mescla de religiões e costumes árabes e ocidentais. O povo que mora no extremo deserto - como Amani e Tamid - é de pele mais escura e olhos da mesma cor e com trabalhos manuais e vivem com que as fábricas lhe dão, porém sentem-se abandonados não somente pelo sultão, mas pelos seres primordiais.

Os seres primordiais são  os seres que criaram o mundo. São extremamente poderosos e criaram os seres humanos para povoar Miraji, porém a Destruidora de Mundo começou a exterminar muitos dejmins - seres da alta hierarquia - e com isso foi presa e os dejmins decidiram deixar os seres humanos vulneráveis a mortalidade, entretanto os mesmos começaram a ter relações com os humanos e darem vida a pessoas com poderes. Nem todos os povos acreditam nas histórias que o povo do deserto conta e isso é um temas debatidos pela autora: a diversidade de culturas e religiões.

Um destaque dessa série são as personagens femininas que são verdadeiramente fortes e surpreendentes. A autora não se limitou apenas a Amani. Ela nos deu Shazad - que só citarei na próxima resenha -, Hala, Delila, Imin e tantas outras que deixam qualquer leitora encantada, porque mostra que as mulheres podem viver tranquilamente sem homens ao seu lado ou sob sua proteção e outro ponto relevante é que a maioria dos personagens tem o tom de pele similar aos indianos: aquele chocolate quente. Nada de brancos aqui. Quando você ler e vê o termo "estrangeiro" é justamente pessoas que tem o tom de pele bem mais claro que indica que "veio de fora de Miraji". Inverter a "normalidade" é um ponto alto nessa série.


Não posso dizer que espero que o próximo volume mantenha a mesma qualidade desse, porque li os três - rsrsrs - e a fluidez, plot twist, guerra, briga por poder e muitas mortes continua. Alwyn conseguiu a mesma constância nos enredos como Neal Shusterman em O Ceifador e A Nuvem.

Não encontrei erros ortográficos ou de coerência nessa edição. A capa é meu amorzinho, porque combina muito com o enredo de cada livro. As entradas de capítulos tem pequenos detalhes muito delicados. A narração é em terceira pessoa e dar um panorama completo dos fatos e emoções dos personagens.

A Rebelde do Deserto é uma obra que venho para quebrar velhos paradigmas de estereótipos femininos e mostrar que política é tão essencial para a sociedade quanto o ar para nós.


 Nota para o livro:



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