[Resenha] Graça e Fúria - Tracy Banghart

14 comentários
Título: Graça e Fúria #1
Autora: Tracy Banghart
Editora: Seguinte(Cortesia)
Ano: 2018
N° de Páginas: 302
Onde Comprar: Americanas || Submarino

Sinopse: Duas irmãs lutam para mudar o próprio destino no primeiro volume de uma série de fantasia repleta de romance, ação e intrigas políticas. Em Viridia, as mulheres não têm direitos. Em vez de rainhas, os governantes escolhem periodicamente três graças — jovens que viveriam ao seu dispor. Serina Tessaro treinou a vida inteira para se tornar uma graça, mas é Nomi, sua irmã mais nova, quem acaba sendo escolhida pelo herdeiro. Nomi nunca aceitou as regras que lhe eram impostas e aprendeu a ler, apesar de a leitura ser proibida para as mulheres. Seu fascínio por livros a levou a roubar um exemplar da biblioteca real — mas é Serina quem acaba sendo pega com ele nas mãos. Como punição, a garota é enviada a uma ilha que serve de prisão para mulheres rebeldes. Agora, Serina e Nomi estão presas a destinos que nunca desejaram — e farão de tudo para se reencontrar.
Graça e Fúria é uma obra que fala sobre liberdade e união feminina diante a tirania e a retirada de direitos e a constância opressão que normalmente recaem sob as mulheres.
Viridia é um país de favorecidos e oprimidos. Aqui as mulheres não tem vez. Sua existência é decidida pelo governo e principalmente pelos homens. Sua única função é procriar e como se isso já não fosse completamente sufocante, as jovens são colocas em uma "guerra" de beleza para conquistarem o posto de Graça do rei e de seus filhos e é nessa parte que conhecemos nossas duas personagens principais: Nomi e Serina.

"Você nunca vai poder escolher seu próprio trabalho, seu próprio marido ou...qualquer outra coisa. Não é assim que funciona." (pág.10)
Serina e Nomi são irmãs. Elas são as filhas de mais uma família pobre de Viridia e cresceram com destinos diferentes não somente pelas suas personalidades distintas, mas pelos objetivos diferentes que perseguem.
Nomi nunca se conformou com a retirada dos direitos femininos e não aceitou de bom grato a falta de conhecimento e por isso estudou e se alfabetizou com ajuda de seu irmão. Seu desejo é ver a queda da família real e a liberdade das mulheres em plenitude. Ela nunca quis o destino de ser uma graça e viver à mercê dos caprichos dos seus opressores, entretanto sabia que teria que ser aia de sua irmã, caso Serina fosse escolhida como uma das graças do príncipe Malachi, porque de forma alguma deixaria sua irmã sozinha nisso.

"Os ancestrais dele eram o motivo pelo qual as mulheres não tinham permissão de ler. O pai dele era o motivo de Serina estar ali. Ele era o motivo de Nomi estar."(pág.66)
Serina nasceu com uma beleza inquestionável e foi escolhida por sua mãe para ter o propósito de acabar com aquela vida de miséria na qual viviam. A beleza e o espírito domado da jovem conquistariam até o coração mais furioso do planeta. Diferente de Nomi, ela nunca teve a intenção de quebrar o sistema. Sua forma de ajudar o mundo, é dando conforto e paz à sua família e ela conseguiria através de seu papel de graça.

Ambas chegam ao palácio real para o concurso de graças e já começam se desentendendo porque tem visões contrárias sobre o acontecimento, porém Nomi sabe que às vezes, é impossível vencer a opressão "batendo de frente" com seus carrascos e aceita se comportar como deve. Só que ela tem um espírito rebelde e acaba sendo flagrada pelos príncipes de frente a biblioteca real e sendo atrevida em suas respostas ao príncipe Malachi.

"- Vocês devem ser tão fortes quanto esta prisão, tão fortes quando a pedra e o oceano que as cercam. Vocês são concreto e arame farpado. Vocês são feitas de ferro."(pág.84)

Ela sabe que a punição não vai demorar. Nada acontece e ela começa a relaxar, mas no anúncio das jovens escolhidas não é Serina que é chamada. É Nomi. Sua audácia tinha custado tudo que ambas sonhavam. Serina fora condenada a ser sua aia e está de frente com quem causou sua desgraça e Nomi fora punida com severidade e perdera sua tão preciosa "liberdade".

O que já era ruim se torna péssimo quando Serina é presa por engano com um livro que Nomi roubara da biblioteca. Mulheres que leem são destinada à Monte Ruína e nunca se ouviu do retorno de qualquer mulher de lá.

Será que Nomi sobreviverá num lugar na qual sempre detestou e não se preparou para viver? Será que a doce Serina resistirá numa prisão onde as mulheres lutam entre si para sobreviverem? Qual será o destino das mulheres da opressiva Viridia?

"As mulheres de Viridia eram oprimidas por que os homens tinham medo delas."(pág.140)

Nomi é uma personagem extremamente forte e indomável e isso me conquistou de primeira, porque parece com minha postura pessoal. Ela dificilmente seria capaz de aceitar qualquer ato opressiva de forma passiva. Seu único problema - todos tem defeitos - é sua incapacidade de pensar antes de agir. Ela vive em confusão porque não entende que o sistema cai com trabalho conjunto e não com atos de rebeldia desconexos e por isso se vê nessa reflexão quando é forçada a viver como sua irmã se submetera a viver.

Serina despertou sentimentos conflituosos no começo do livro. Como ela era passiva e achava tudo "muito normal" naquela sociedade comecei a desejar que ela sofresse para ver que nada era um conto de fadas. Quando ela é condenada à prisão, sabia que ela entenderia a fúria e a inconformidade de sua irmã.

"[..]Mas meu pai acreditava que toda opressão sempre, sempre seria combatida e superada. E não era o único tentando mudar as coisas." (pág.248)
O príncipe Malachi que é o primogênito do rei é nossa incógnita até o último capítulo da obra, porque ele se apresenta como a "sombra" de seu pai que é um tirano e conservador que permite a opressão contra as mulheres, porém ele se revela inversamente diferentes e vários momentos, o que deixa o leitor confuso e ansioso pela revelação de suas intenções verdadeiras.

O príncipe Asa que acaba se tornando o aliado de Nomi, é engraçado, divertido e com o objetivo de modificar o atual modelo político do país. Suas ações e posturas são inegavelmente retas e aprováveis, o que deixa o coração de Nomi aquecido e apaixonado.

As jogadas da autora se assemelham com a estrutura narrativa da Rainha Vermelha e isso pode incomodar os leitores que já leram as obras de Victoria, só que Tracy tem sua originalidade e foco decidido. Diferente de Victoria que perdeu duzentas páginas de blablabla e não revelou o contexto histórico de sua distopia e confundiu seus leitores optando por dois gêneros - ficção científica e fantasia -, nossa autora opta pela especificação de contexto. Seu foco é a liberdade feminina e por isso todas as personagens femininas ganham destaque e voz nesse livro. A reflexão primordial é: Por que em momentos de crises políticas é a mulher que tem seus direitos questionados e sua liberdade aprisionada?

 "[...] Somos concreto e arame farpado. Somas feitas de ferro. - Serina encarou as mulheres que  a cercavam. - Somos inteligentes e perigosas. Os guardas sabem disso. Sabem que temos o poder de derrubá-los se trabalhamos juntas. Precisamos parar de nos matar e lutar contra eles."
A caminhada de Nomi e Serina conversam diretamente ao público feminino. O crescimento e amadurecimento de Serina em Monte Ruína lhe mostram que a rebeldia de sua irmã era louvável e importante. Ela não estava vivendo. Estava aprisionada na ignorância. Nomi em meio ao luxo e as "cobras" percebe que sua irmã se submeteu àquilo por amo à família e não por gostar. Lhe pergunto quantas de nós não nos submetemos para sermos aceitas socialmente? Quantas de nós não achamos lindo quando mulheres se castigam e oprimem umas as outras para se tornarem "algo desejável", como num concurso de beleza? Será que não punimos umas as outras simplesmente porque formos alienadas à isso? Lhe pergunto: Quando olhas uma mulher, observa primeiramente a beleza ou sua postura? Agora: Faz o mesmo com os homens?
A capa é meu xodó, porque as ilustrações são como imaginei as duas irmãs e os detalhes em dourado tão um toque de realeza a obra. Não há erros gramaticais ou afins. A fonte é agradável e a narração é feita por Nomi e Serina de forma alternada.

Graça e Fúria é sobre o papel da mulher em tempos de crises e golpes.

Nota para a obra:


Comentário(s)
14 Comentário(s)