[Cine Pipoca] Sexy por Acidente

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Título Original: I feel pretty
Título em português: Sexy por Acidente
Gênero: Comédia
Direção: Abby Kohn, Marc Silverstein
Ano de lançamento: 2019
Elenco:
Amy Schumer/Michelle Williams/Rory Scovel
Emily Ratajkowski/Busy Philipps/Aidy Bryant
Naomi Campbell/Lauren Hutton/Tom Hopper
Duração: 110 min
Sinopse:
Renee (Amy Schumer) convive diariamente com insegurança e baixa autoestima por conta de suas formas físicas. Depois de cair e bater a cabeça numa aula de spinning, ela volta a si acreditando ter o corpo que sempre sonhou e assim começa uma nova vida cheia de confiança e sem medo de seguir seus desejos.
Sexy por acidente é uma comédia que não brinca com assuntos sérios, mas mostra o quanto somos massacrados por comentários desnecessários e padrões estéticos e sociais ridículos e insensíveis.

Renée Bennett é uma jovem que trabalha no escritório da grande empresa de cosméticos mundialmente conhecida, Leclair. Ela não trabalha no escritório principal que fica na Quinta Avenida e sim num abandonado anexo em um porão em um prédio qualquer em Nova York e ao lado de um programador desorganizado e sem vontade de conversar.

A jovem sempre está atrás de mudanças em seu próprio corpo, porque não se sente bem em não ser um “padrão” como todas as mulheres magras e com um rosto espetacular. Seu sonho é ser linda, mesmo que as pessoas digam que ela é maravilhosa do jeito que é e sua obsessão por academias, a coloca em diversas situações hilárias e desconfortáveis, porque em lugares como esse a estética “perfeita” é gritante e numa dessas aulas loucas, Renée bate a cabeça no chão e quando acorda se vê de uma forma diferente. Ela se vê como queria ser e com isso vemos sua autoestima crescer.

Ela se inscreve na seleção para recepcionista da Leclair e dar um show quando é entrevistada e ganha a admiração dos funcionários por seu amor próprio e é contratada e quando começa seu trabalho, ela mostra-se competente e gentil com todos. Sua alegria e sorrisos sinceros é de derreter qualquer coração gelado e elitista.

Só que ela não é ela mesma. Renée está sob o efeito de uma projeção sua de si mesma – Carl Jung e Sigmund Freud explicam isso como um ego criado -, então ela se vê magra e com um rosto perfeito e por isso não se deixa diminuir por nada e com isso começa a absorver atitudes e ideias nocivas do meio que tanto criticava: o padrão estético.

Renée então tem seus relacionamentos sob essa perspectiva e se relaciona com o inseguro Ethan. Ela o conquista com seu carisma e beleza criada e acha que ele a ver, como ela se ver e com isso se a “magia” passar, tudo pode acabar, porque ela pode entrar em colapso e romper com si mesma.

Será que Renée sairá desse transe e voltará a ser ela mesma? E se acontecer, como ela reagirá?

Algo interessante desse enredo é que ele rompe com todo o ideal de comédia que estamos habituados a assistir, porque o gênero pode ter um teor político, mas tende a ser mais entretenimento, só que esse mostra um novo segmento que atua como uma crítica explicita e reflexiva sobre nosso modo de agir com todos e isso inclui homens e mulheres.

Renée é uma personagem bem diferente de outras que conheci. Ela é alta e loira e isso é bem característico das mulheres norte-americanas (algo mudado há 3 décadas), só que ela tem uma leve barriguinha e um rosto nem um pouco estreito e suave e isso lhe incomoda há anos e por isso faz mil coisas para mudar isso. Não importa o quanto ela seja bem-sucedida em outras áreas de sua vida, sua autoestima e seu desejo louco de “ser bonita” infernizam sua sanidade e felicidade e é na figura dela que somos destroçados, porque nos identificamos com ela em muitas coisas.

Ethan que se torna namorado da protagonista é o personagem mais bem utilizado do filme. Não temos um galã magro e alto que conquista a mocinha com seu sorriso de Bad Boy e nem sua fortuna digna de Tony Stark. Ele é um homem comum e comum no sentido mais literal da palavra. É aquele tipo - e usarei a forma que muitos homens dizem das mulheres – de homem que você não daria uma segunda olhada na rua ou na sala de aula, porque ele não tem uma beleza “destaque”. Ele é inseguro ao extremo. Não acredita em seu talento profissional, sua desenvoltura com as mulheres e muito menos nos atrativos de seu corpo. Sua colocação no enredo é estratégica, pois descontrói a ideia que somente mulheres sofrem com o machismo. Se existe uma faca de dois gumes é o machismo que massacra as mulheres e destrói os homens.

Todos os personagens carregam papéis significativos no contexto. Não há personagens-acessórios aqui. As amigas de Renée, Jane e Vivian, são totalmente confortáveis com seus corpos e personalidades. A gerente de Renée, Avery Leclair tem uma insegurança ao apresentar trabalho por causa de sua voz aguda e estridente, o irmão lindo de Avery que nunca se achou capaz de administrar a empresa da avó e tantos outros que nos identificamos muito.

Há uma parte no final – sem spoiler haha – que Renée diz o seguinte: “Que tenhamos a força, resistência e autoconfiança das crianças” e isso é verdade. Quando somos crianças não nos importamos com padrões estéticos e nem sociais. Podemos sim maltratar o outro, entretanto ensinados por algum adulto que nos passa preconceitos, todavia sem isso não julgamos e não temos vergonha de nós mesmos e nem do tamanho da nossa barriga ou finura de nossos braços e por que quando somos adultos deixamos ser pulverizados por comentários insignificantes e desnecessários e normalmente de pessoas tão insignificantes quanto seu veneno?

A escolha da atriz para Renée é perfeita, porque ela é comediante e sabe dosar bem suas falas e expressões faciais que são essenciais em diversos acontecimentos, como, quando ela bate a cabeça e se vê como outra mulher e ela começa a imaginar situações comuns com mulheres exuberantes, operários assobiando, homens tolos pedindo número de telefone com abordagens infantis e tudo isso passa por uma crítica espontânea.


A duração é pouca diante a grandeza do impacto do filme nos telespectadores, porque somos enganados achando que vamos rir com Renée, entretanto somos levados a refletir e aprender a ser cuidadoso com que falamos e absorvemos como verdade. Somos capazes de qualquer coisa que sonhamos e não podemos ser limitados por nossa leviana comparação com o outro e com o dar de ouvir à comentários venosos e torpes.
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