[Resenha] Quando o sol voltar - Neide Gomes Barros

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Título: Quando o sol voltar
Autora: Neide Gomes Barros
Editora: CAB
Ano: 2018
N° de Páginas: 180
Onde comprar:  Amazon

Sinopse:
 Ao ingressar na Universidade, Laura traz em seu coração as sombras do passado. Um romance mal resolvido, uma história familiar a assombrá-la Preocupada com o rumo financeiro de sua vida e apaixonada pelos livros, dedica-se com afinco ao primeiro emprego.
É então que ela conhece Heitor, o jovem sedutor, de sorriso cativante. Porém, após a formatura, ela mergulha em um dilema. Apesar de amar seu trabalho na Biblioteca e de se apaixonar por Heitor, sabe que precisa definir profissionalmente seu futuro.
Quando menos esperava, Laura recebe uma proposta irrecusável, integrar a equipe de consultores da Satori, uma das melhores empresas do mercado. Sem perceber, ela mergulha cada vez mais fundo na vida profissional.
Enquanto isso, a família, Heitor, Carol, sua melhor amiga, vão ficando para trás. Além de obcecada pelo trabalho, Laura ainda tem que lidar com os fantasmas de seu passado.
Quando, porém, numa noite de Natal, uma perda irreparável arrasa sua vida meticulosamente estruturada, Laura começa a questionar suas escolhas.



“Talvez fosse, finalmente, hora de repensar sua vida.” p.13

Quando o sol voltar é uma obra que fala sobre escolha de prioridades, o excesso de trabalho que pode nos levar longe de quem amamos e nos perder da essência do que é fundamental para nossa existência. 

Laura é uma jovem de aproximadamente dezoito e acabou de receber pela televisão que foi aprovada na faculdade de Administração da Universidade Federal de Minas Gerais e toda sua família está em êxtase com sua conquista, porque era a primeira dali que estava ingressando no curso superior e almejando dar uma melhor qualidade de vida para a família que tanto lhe ajudou.

Todos ficam felizes com o seu objetivo alcançado, porém esse o primeiro de muitos degraus que ela precisava subir para ser uma executiva de sucesso e prestígio. O próximo passo era se mudar de Virginópolis para Belo Horizonte e conseguir se manter. Laura sabia das condições financeiras limitas de sua família e isso a preocupava por demais, mas sua mãe e avó nunca permitiriam que ela desistisse de seus sonhos por isso e teria ajuda até quando precisasse, entretanto, ela conseguiria um emprego para pagar suas despesas pessoais.

Belo Horizonte trouxera para ela uma vida mais agitada com muitas pessoas e uma rotina mais pesada, como todas as grandes cidades têm. Ela agora dividira um apartamento com três pessoas e uma delas se tornara sua grande amiga: Carol. Juntas elas passam muitos momentos de descontração e de estudos. Carol se mostra ser uma amiga leal e incentivadora para Laura que só tem olhos para suas conquistas acadêmicas e profissionais.

Meses se passam e o medo de não conseguir emprego pesam nos ombros de Laura e lhe tornam pessimistas e ansiosa e isso torna o otimismo de Carol, uma fonte de paz e porto seguro na vida da jovem. Um emprego surge numa biblioteca de uma escola de idiomas e a jovem do interior sente suas forças serem renovadas e o mal-estar emocional passa e divide suas conquistas com sua família.

Aos degraus vão sendo alcançados passo a passo, porém o coração de Laura ainda é travado para o amor por causa de um sentimento mal resolvido com um antigo namorado chamado Felipe, só que o amor surge nos momentos mais inesperado da vida humana e o lindo e espirituoso Heitor aparece para arrebatar o coração dela e tornar a vida mais leve e colorida.

O relacionamento vai indo bem assim como a carreira profissional dela, todavia desastres e perdas são inerentes a existência humana e nem sempre nossos objetivos individuais abraçam outras pessoas e assim vendo a ruína bater na porta da vida de Laura e trazer penúria e novas prioridades em seu íntimo.

Será que Laura encontrará seu propósito de vida após tantos golpes da vida? Será que os objetivos profissionais são mais importantes que qualquer coisa em nossas vidas? O que são fama, sucesso e dinheiro comparados com as pessoas que amamos?

“[...] só acho que deve considerar as pessoas e os sentimentos envolvidos.” p.49

Laura é uma personagem bem real. Suas características pessoais são quase palpáveis e facilmente semelhantes com algumas de nós. Ela vivera uma vida com muitas dificuldades financeiras porque a fazenda de seus pais acabou não prosperando e viram-se obrigados a morar com a vó dela. Ela sabia que não queria mais viver em condições de vulnerabilidade econômica e almejava em dar uma vida confortável aos pais e sua avó e por isso só tinha um objetivo de vida: ser uma administradora de muito prestígio e não media esforços para isso, entretanto se nos dedicamos exclusivamente apenas uma área de nossas vidas, consequentemente as outras definham.

Os pais de Laura são tudo que um filho deseja em seus pais. São amorosos, protetores e capazes dos maiores sacríficos para dar a filha tudo que ela precisa para ser feliz. Sua avó é o amor em pessoa. Nunca se abate diante as mazelas, tem um sorriso exuberante nos lábios que joga fora qualquer tristeza, um otimismo inabalável e principalmente, uma força indestrutível. Em muitos momentos de dúvida e medo da neta, é ela que a ampara e traz palavras de incentivo e sabedoria.

“Trate as pessoas como se elas fossem o que poderiam ser e você ajudará a se tornarem aquilo que são capazes de ser.” (Goethe/p.80)

Carol, a amiga de Laura é engraçada e leva a vida com leveza e muito equilíbrio. Diferente de Laura que se negava a atender qualquer outra área de sua vida que não fosse a profissional, a jovem sabia que alcançar independência financeira era importante, mas não exclusiva para requerer tudo dela e por isso não ficava calada quando a amiga se afastava de todos por causa da carga absurda de trabalho. Ela via Laura definhando em seu relacionamento amoroso, familiar e com os amigos.

Heitor é um homem de persistência louvável. Ele nunca desistia de qualquer coisa que amasse. Gostava de seu trabalho na advocacia, seu sucesso e tudo mais, entretanto nunca colocava seu amor por Laura para fora de suas prioridades. Ele sabia que a desejava como sua companheira de vida e por isso sofreu muito quando viu ser esquecido pela amada por causa do excesso de trabalho. 

Quis bater em Laura muitas vezes porque ela era muito alienada em algumas de suas escolhas. Sei que o trauma das limitações financeiras era forte, mas não podia ser o “senhor” de suas decisões e tomar toda sua vida. Ela era obcecada por trabalho e deixava todos os que se importavam com ela em algum plano bem longe dela, porque toda sua vida escorria pelo tempo e ela nem percebia e quando caiu em si, foi da pior forma.

Personagens como Laura são frutos de uma sociedade que valoriza o excesso de trabalho, que alimenta as pessoas que levam suas tarefas profissionais para casa, que desistem de seus relacionamentos pessoais em prol de uma empresa. A jovem é a personificação do se importar com o ter e esquecer do ser. Ser humano, ser presente, ser constante nos relacionamentos, ser lembrado. Os relacionamentos humanos são a base de nosso desenvolvimento emocional e sua ausência nos torna simplesmente máquinas sem alma.

Com esse enredo tão verossímil, me vi em diversas atitudes da jovem. Há momentos em minha vida que valorizei mais o trabalho e a faculdade do que quem amo. Perdi datas comemorativas e conquistas, por causa de um status mais elevado na profissão e para quê?

“- Amiga, ele não a conhece? Workaholic, obcecada pelo trabalho, por realização profissional. Deveria saber que você não largaria uma carreira promissora por nada, nem por ninguém.” p.138

Nesse livro temos a vida como ela e nos deparamos como se um espelho nos refletisse e perguntasse: Quais são suas prioridades neste momento? Tem dado atenção para quem te ama? Como andam seus relacionamentos?

A narração é em terceira pessoa e nos dar um panorama satisfatório dos acontecimentos e amadurecimento da personagem. O enredo é narrado em 2000 e 2010. O único ponto que me incomodou é que em pequenos pontos, a ausência de mais detalhes sobre alguns fatos acaba tirando um pouco a profundidade dos mesmos, mas a narrativa é fluída e cativante.

Quando o sol voltar é como se estivéssemos cara a cara com as Parcas da Mitologia Grega e as mesmas mostrassem o quanto nos dedicamos excessivamente em apenas uma atividade em nossas vidas e a verdadeira parte prazerosa tenha sido renegada à indiferença.

                                  Nota para a obra:

 
Comentário(s)
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  1. Definir prioridades é sempre uma coisa tão dificil, eu mesma tenho muita dificuldade com isso.
    Adorei a premissa do livro e a capa também me encantou bastante, a escolha das cores me lembrou um outro livro que eu gosto bastante!
    Vou procurar esse livro logo logo pra ler! Amei o post!

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  2. Oii, tudo bem?

    Gostei bastante da premissa, acho que nunca li um livro que tivesse uma mocinha obsessiva pelo trabalho, e acho bem interessante uma trama que explore esse assunto. Toda essa questão de rever suas prioridades é muito importante, pelo menos eu acho, as vezes perdemos muitas coisas realmente significativas em nossas vidas em função de outras que na realidade não tem tanta relevância quanto pensávamos.

    Mesmo com a falta de mais detalhas no enredo, que você mencionou, esse é um livro que eu certamente vou querer ler, já até coloquei na minha lista de desejados. Amei a sua resenha. Obrigada por compartilhar!!

    Beijinhos!!!

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  3. Olá, amei conferir sua opinião sobre o livro, é uma obra que já vem chamando a minha atenção há algum tempo por falar de algo infelizmente muito real: pessoas que focam demais em suas carreiras profissionais e acabam esquecendo de dar atenção a outros relacionamento e outras partes da vida.

    petalasdeliberdade.blogspot.com

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  4. Olá! Tudo bem?

    Definir prioridades é sempre um desafio, mesmo sendo imprescindível para a realização de nossos sonhos. Pm me parece ser uma premissa muito boa e com certeza já quero saber mais sobre.

    Beijos,
    Blog Diversamente

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  5. Eu adoro tramas narradas em terceira pessoa, essa obra vem fazendo sucesso nos blogs que acompanho e a minha curiosidade só aumenta por conta disso. Não sabia exatamente sobre o que a obra falava mas concordo contigo, a personagem me parece muito real e isso só aumentou minha vontade de realizar a leitura.

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  6. Que resenha mais completa! Eu ainda não li esse livro e tenho muita vontade, gostei bastante de poder ver a sua opinião sobre a leitura e espero poder ler em breve.

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  7. poxa, me parece ser uma leitura bem crua a respeito desses conflitos entre Ser e Ter. gosto quando histórias trabalham esse tema de maneira tão intensa, que acredito que seja o caso dessa obra...
    bj :D

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  8. Olá,
    Gosto destes livros que te fazem refletir sobre opiniões tomadas e as consequências, livros de drama com este conteúdo costumam me deixar interessada na história. Não curti tanto a capa, mas leria pela sinopse e por conta da sua resenha.

    Debyh
    Eu Insisto

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  9. Oi Janice, como está?
    Nossa, que resenha mais completa e expressiva! Esse deve ser o segundo livro com esse tipo de protagonista que eu vi na minha vida literária. O primeiro foi um que eu revisei e cuja pré-venda já está no ar, "Uma noite e nada mais". Ambos têm uma proposta muito semelhante, mas esse parece ser bem mais pesado quando se trata de "colocar o dedo na ferida".
    Abraços e beijos, Lady Trotsky...
    http://osvampirosportenhos.blogspot.com

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