[Cine Pipoca] O Poço

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Título: El Hoyo
Gênero: Suspense/ +18
Ano: 2020
Duração: 94 min.
Produção: Galder Gaztelu-Urrutia
Elenco: Iván Massagué, Antonia San Juan, Zorion Eguileor, Emilio Buale Coka e Alexandra Masangkay

Sinopse:
O Poço conta a história de um lugar misterioso, uma prisão indescritível, um buraco profundo. Dois reclusos que vivem em cada nível. Um número desconhecido de níveis. Uma plataforma descendente contendo comida para todos eles. Uma luta desumana pela sobrevivência, mas também uma oportunidade de solidariedade.
Enredo
Imagine que você ler um anúncio num jornal qualquer ou uma pessoa próxima mostra um panfleto sobre um local que procura pessoas que passem um tempo confinadas comendo e em troca ganham aquilo que desejarem. Um sonho perfeito né?

Goreng é um homem que se interessou por esse anúncio e passou pela entrevista de O Poço. Sua intenção era usar o certificado homologado em seu futuro trabalho, mas o que ele imaginava ser uma "férias" lendo Dom Quixote acabaram se revelando ser um teste de sobrevivência real e desumano.

O Poço(El Hoyo) nada mais é que uma prisão vertical que tem diversos andares e em cada andar ficam duas pessoas que só podem levar um objeto para sua temporada lá. Eles se vestem com um macacão cinza e se alimentam com um banquete que desce todos os dias do andar 0 até o último andar(maior mistério do filme, já que ninguém sabe quantos andares tem) só que a mesa com literalmente muita comida vai diminuindo de quantidade a cada nível que alcança. Quem estiver nos últimos níveis não verá qualquer resquício de comida. Os níveis mais altos sempre se alimentam mais, o que causa um comportamento condenável em todos, porque atrocidades como canibalismo e suicídios vão sendo cometidos com uma naturalidade assustadora.

Nosso protagonista tenta agir com empatia e solidariedade, porém começa a ser envolvido numa atmosfera de individualidade, egocentrismo e loucura e tendo apenas duas formas de encarar essa situação na qual se colocou antes da próxima troca de nível: tentar quebrar esse sistema e libertar todos ou se entregar a opressão do lugar e lutar por sua sobrevivência.
Qual escolha vocês acham que ele tomou? Qual você tomaria?

Desenvolvimento

El Hoyo não é um filme para se assistir nessa época de histeria e pandemia, porque é paranoico, doloroso, visceral e brutal com os telespectadores. Não que seja ruim, mas o atual cenário deixam qualquer um mais vulnerável com enredos assim.

O sistema do Poço é como é dividida nossa sociedade. Não pense que é absurdo os elementos que a direção e produção escolheram, pois nem de longe fogem da nossa realidade. A divisão em níveis nada mais é que a divisão em classes sociais que se subdividem de acordo com origem e cor de pele em nossa sociedade atual. A obra busca nitidamente confrontar e deixar desconfortável quem assiste. Vamos nos encontrando em cada um dos questionamentos levantados pelos prisioneiros do lugar.
Há alguns anos se discutem na Academia(universidades) a existência de classes sociais. Segundo alguns estudiosos o sistema de classes foi abandonado. Grande parte dos cientistas sociais ainda permanecem afirmando o contrário e estou com eles. Mudaram-se nomes e territórios, mas a prática de segregação e desigualdade econômica e social permanecem intactas pelo tempo. A clara divisão social se vê logo no café da manhã, enquanto o trabalhador autônomo ou assalariado "forra a barriga" com café preto e um pão com manteiga, o empresário toma um café completo igual as séries norte-americanas. 

Segundo dados da ONU em 2019, aproximadamente 820 MILHÕES de pessoas passam fome no mundo. O que acaba sendo estranho porque a produção de alimentos no mundo daria para alimentar 15 BILHÕES DE HABITANTES.Uma conta que não fecha devido o acúmulo de riquezas pelos mais ricos que a cada ano vão enriquecendo mais e mais com o atual sistema econômico: O Capitalismo.
O Poço utilizou literalmente de um buraco imenso que separa ricos e pobres  e que é alimentado diariamente por todos como se fosse natural. Um dos grandes reforços que a produção ressalta é que a meritocracia é tão horrenda quando afirmar que rico é rico porque trabalha mais. Não há nada louvável em ter que trabalhar 90 horas ou estudar 12 horas para conquistar algo, enquanto alguém da classe média estuda nas melhores escolas do país e tem comida farta em casa. Em tempos de pandemia do corona e H1N1 vemos que El Hoyo cai como uma metáfora cruel em nossos colos.

Os níveis mais baixos do poço não são desumanos. Eles são humanos, mas tiveram o poder de se alimentar da forma ideal e por isso permitem que o instinto animal que envolve nossa sobrevivência fale mais alto. Eles matam para sobreviver e torcer para estar num nível melhor na próxima troca e pior, fica alerta para não ser morto. Não seria isso a vida dos menos abastardos lutando para ter um pouco mais para se alimentar conforme os nutricionistas falam ou segundo os coach de alimentação agora falam e ainda tentam condenar as pessoas por comerem carne? Qual família que ganha menos de 1000 mil reais por mês ou segundo a ONU 5 dólares por semana pode ter uma alimentação saudável se tem que pagar contas e torcer para não perder nenhum bem material numa chuva?

Comentários Finais
Visualmente o trabalho da produção é espetacular. A sensação de claustrofobia é perspectivo e impossível de ser tragado com rapidez. Esse filme é para ser absorvido aos poucos...com pausas, porque ele é perturbador e quebra qualquer ideia egoísta que tenhamos. 

O maior destaque dessa obra além de sua originalidade peculiar, é a atuação do elenco espanhol escalado. O destaque é para Ivan Massagué que interpreta nosso protagonista. Seu rosto é evidência de quanto um ser humano pode ser modificado por um sistema opressor, violento e desigual. Por vezes tive que respirar com seus primeiros sinais de desequilíbrio mental, pois é impossível não vê a sanidade se apagar em seus olhos e ele lutar com todas as forças em quebrar aquilo tudo antes do seu fim.
O Poço não é recomendado para essa época. Evite-o até passar essa quadro insano e inesperado no mundo, porque assisti sem saber nada e hoje não consigo me alimentar sem lembrar do horror que a produção espanhola usou. Pode ser um dos objetivos dos produtores, todavia evitem isso por esses tempos.

El Hoyo é se junta a Parasite como uma obra chocante, legitima e profundamente perturbadora em tempos tão carregados de tensão como 2020.
  
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