Título:
Vida
Líquida
Autor:
Zygmunt
Bauman
Editora:
Zahar
Ano:
2005
N°
de páginas: 210
SINOPSE:
Este livro procura apresentar um compêndio dos efeitos que a estrutura social e econômica, com base no que é descartável e efêmero, gera na vida, seja no amor, nos relacionamentos profissionais e afetivos, na segurança pessoal e coletiva, no consumo material e espiritual, no conforto humano e no próprio sentido da existência. Em 'Vida líquida', Zygmunt Bauman retoma o tema da fluidez da existência contemporânea, segundo o sociólogo, a 'precificação' generalizada da vida social e a destruição criativa própria do capitalismo suscitam uma condição humana na qual predominam o desapego, a versatilidade em meio à incerteza e a vanguarda constante do eterno recomeço.
Mais um livro desse
espetacular escritor e filósofo contemporâneo – Zygmunt Bauman – com assuntos
que são essenciais para as relações humanas na sociedade consumista do século
XXI na qual estão sendo negligenciadas sem as pessoas se darem conta de sua
importância.
O livro assim o demais
tem como tema central a Sociedade Líquida
e Consumista na qual estamos inseridos atualmente. Com prazo de validade
mais curto a cada dia, essa sociedade valoriza o que é temporário. Tudo que é
permanente é um empecilho para a geração de insatisfação que a sociedade
consumista necessita.
O que mais me
impressionou na leitura é a semelhança que Bauman tem com Richard Sennett,
autor de A corrosão do caráter que li
faz pouquíssimo tempo e é citado demais nesse livro. Senti-me bem com ambas as
leituras, pois uma completa a outra. Bauman cita Sennett nessa frase: “Negócios
perfeitamente viáveis são destruídos e abandonados, empregados capazes são
lançados à deriva em vez de ser recompensados, simplesmente porque a
organização tem de provar ao mercado que é capaz de mudar. ” Essa afirmativa
mexeu demais comigo, devido ser um pensamento que já tive quando adentrei a
Academia e comecei a estudar o “Mercado” e vir uma necessidade falsa de
constante MUDANÇA. Uma mudança sem necessidades reais, apenas para mostrar aos
outros – mercado, concorrentes e consumidores – que somos (falando como
empresa) capazes de nos adaptar as “necessidades” dos consumidores ou as
“exigências” do mercado.
A obra é estruturada em
sete capítulos que vão abordando áreas mais específicas do tema central – Vida
Líquida – ao decorrer do livro problemas e dilemas vão sendo apresentados aos
leitores e incitam os mesmos a se questionarem e duvidarem de tudo que tem sido
passado a eles como “Verdade”.
No capítulo 1, o autor nos
afala sobre a necessidade infundada das empresas – assim, como as pessoas
também – tem de quererem estarei em constante Mudança. Adotam um espírito sem
constância e procuram ferozmente “motivos” nos outros para mudarem. A mesmice é
vista como um erro fatal para todos os jogadores do Mundo Capitalista. A
perpetuação do que é concreto agora é uma ameaça para os seres humanos dessa
sociedade que visam que as raízes devem ser cortadas e trocadas por próteses
que podem ser retiradas a qualquer momento sem aviso prévio assim eliminando os
“fracos” da jogatina dos “Poderosos”.
O capítulo 2 traz como
assunto principal a formação dos Heróis. Há alguns séculos passados, os heróis
eram as pessoas que tinham ideais puros e lutam por alguma causa nobre e
morriam para ajudar as minorias e eram quase santificados pelo povo. Na
sociedade consumista, os heróis perderam sua “eternidade” e se tornaram
Celebridades. Não carregam em suas falas e discursos lemas igualitários ou
praticam boas ações. Apenas tem rosto bonito, estão na mídia constantemente,
tem seus cabelos copiados por multidões, suas vidas são vigiadas 24hs por dia.
A individualidade e a futilidade tornam-se o glamour dos heróis do século XXI.
A morte por alguma causa é vista como loucura ou fanatismo.
“ [...] a sociedade de consumo líquido-moderna despreza os ideais do
“longo prazo” e da “totalidade”.
No capítulo 3 temos como
abordagem principal a formação da cultua. Na sociedade líquida-moderna não são
os marcos históricos, lembranças, memórias ou glórias passadas que fazem de
algo um “produto cultural”, mas seu valor no mercado. Se as pessoas querem
consumir determinado lugar ou coisa, aí sim teremos um produto comerciável e
não uma Utopia. São os mercados que ditam o que é “essencial” para a cultura e não
o inverso. No século XXI não há espaço para valorização nacional e sequer
regional. A globalização venho para derrubar barreias não só geográficas, mas
ideológicas, econômicas, educacionais e até culturais. Há uma necessidade de
uma “cultura global” que seja identificada como um produto pronto para consumo
e preparado para ser jogado “no lixo” quando se torna obsoleto.
“Um mercado de consumo propaga a circulação rápida, a menor distância do
uso ao detrito e ao depósito de lixo, e a substituição imediata dos bens que
não sejam mais lucrativos. ”
O capítulo 4 abre alas
com o assunto construções modernas, ou seja, a vida urbana atual. Bauman nos
traz vários dados que confirmam suas suposições e estudiosos que analisam a
fundo esse problema que afetado toda a população do século XXI: O Medo
Onipresente.
Percebemos que as
arquiteturas atuais trabalham em prol do isolamento social. Não proporcionam
convívio com os demais vizinhos. As residências tornaram-se fortalezas humanas
e preparadas para “guerras” invisíveis e irreais. A maior guerra não se
encontra nas ruas ou nos campos de concentração do século XX, mas em nossas
mentes. Formos dominados pelo estado permanente de Insegurança e nosso
“sensor-aranha” a todo momento detecta algo inimigo inventado pelo Estado e o
Mercado.
“ A vida urbana se transforma num estado de natureza caracterizado pelo
domínio do terror, acompanhado pelo medo onipresente. ”
No capítulo 5 Zygmunt
trata sobre nós Consumidores. Nesse capítulo uma nova faceta é nos é
apresentada. Somos apenas peças no tabuleiro dos “Poderosos Chefões” do Mercado
Global. O mercado não quer satisfação plena de seus consumidores. Ele quer o
contrário. Geram constantemente produtos que criem mais insatisfação em seus
clientes. A insatisfação é a válvula que move o mercado atual, sem isso tudo
seria perdido. Todas nossas frustrações, dores. Sofrimentos podem ser “curados”
num shopping center, esse que é o
símbolo máximo da nossa sociedade.
“ A sociedade de consumo consegue tornar permanente a insatisfação. ”
O capítulo 6 nos traz
como tema central a Educação. Na sociedade de consumo o processo educacional
tornou-se tão volúvel quanto seus atores principais. Todo o conhecimento parece
ter virado um “produto” assim como alimentos, roupas e sapatos. Encontramos
agora a Indústria do Conhecimento, que mostra que toda informação tem prazo de
validade e as pessoas necessitam sempre estarem se atualizando. Nesse ritmo o
termo APRENDIZAGEM tornou-se o sinônimo de Educação. Isso causa um desconforto
nos educadores, pois apresenta o conhecimento como arma principal para o jogo
dos “Chefões”, entretanto o conhecimento é tão obsoleto quanto um celular do
ano passado, porque já foi lançado um da nova geração. Nesse diálogo
antagônico, as pessoas pisam em um campo-minado e podem ser excluídas da
guerra, simplesmente porque seu conhecimento tornou-se “ultrapassado”.
Aqui a educação das
universidades não condiz com o que o MERCADO quer e o diálogo torna-se cada vez
mais contraditório e caminha para um rumo que pode afetar os princípios
conhecidos pelos educadores e apenas satisfazer o “Chefão”.
“ A mudança educacional está se tornando cada vez mais vinculada ao
discurso da eficiência, da competividade, da efetividade de custos e da
contabilidade. ”
No capítulo final da
obra, Bauman fecha o livro com chave de ouro falando de todos os temas
anteriores juntamente com a responsabilidade do Estado em influenciar nas
escolhas das pessoas.
As pessoas parecem
quererem ser enganadas. Sabem que estão sendo enganadas, mas deixam-se ser
levadas pelo Mercado. Nisso entraria a ação do Estado na ajuda de “escolhas
certas”, onde produtos e serviços realmente visassem a satisfação e a
felicidade das pessoas e não alimentar um ciclo completamente vicioso.
“
[...] ser incompreendido pelo senso comum é o privilégio, até mesmo o dever da
filosofia. ”
O livro é terceiro de
mais de 20 livros que quero ler de Zgymunt Bauman e sou suspeita de falar desse
autor brilhante e tão profundo em suas investigações sociológicas e filosóficas
sobre a Vida Líquida.
Esse livro é muito bom. Adorei a resenha!
ResponderExcluirObrigado pela resenha.
ResponderExcluirMuito boa a resenha e adorei verificar que tb se chama Joanice ;)
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