Resenha
do livro Poemas que desisti de rasgar – David Cohen
Nome:
Poemas
que Desisti de Rasgar
Autor:
David
Cohen
Editora:
5W
Ano:
2014
N°
de páginas: 105
SINOPSE:
Em Poemas que desisti de rasgar, a ideia do poeta David Cohen é criar um paralelismo entre a frase de Guimarães Rosa “Viver é um rasgar-se e remendar-se” e o próprio fazer poético. De acordo com o autor, é inerente ao trabalho do escritor a primeira avaliação de sua obra, selecionando o que deve ser guardado e o que merece ser descartado. À semelhança da vida, o escritor, durante o processo criativo, se reinventa a cada palavra, rasgando e remendando seus textos, que posteriormente serão “rasgados e remendados” pelos olhos dos leitores. Por este motivo, Poemas que desisti de rasgar é um convite e uma provocação: o leitor dará a palavra final sobre o que deve permanecer.
Esse livro é a leveza em
palavras e rimas livres. Encontrei nele um portal para a infância e um convite
ao mundo dos poetas. Esse a qual eu faço parte também.
É o primeiro livro de
David Cohen que li na minha vida e sabia que uma experiência sem precedências e
que trouxe tranquilidade ao meu coração e calma a minha mente.
O autor retrata poemas
que trazem como sua carreira de poeta começou desde a infância e como seu
talento para as letras e as rimas fizeram dele alvo de piadas e incredulidade
de sua família diante sua aptidão para os versos poéticos.
Só quem escreve poemas e
tem um olhar diferente e observador para qualquer coisa que veja, ouça ou sinta
sabe o que sofremos quando apresentamos nossa paixão pelos versos e com David
não foi diferente. Num dos seus poemas ele diz: “ Para minha mãe poesia não enche barriga. ” Percebemos que a mãe
gostou do talento de Cohen, mas logo o avisou que viver de versos e rimas não
faria ele ganhar lá muito dinheiro.
O livro traz temas como o
amadurecimento, onde as pessoas sempre nos dizem que quando crescemos seremos
maduros suficientes para tomar escolhas certas e estar com nossa vida bem
encaminhada, mas o poeta nos lembra em seu poema Mais Velho que “ Aos 15 anos/
me disseram que aos 30/ estaria maduro e poeta. ” Se continuamos lendo o
poema, nos deparamos com a voz do poema dizendo que ele chegou a uma idade mais
avançada e não tempo para nada e só lhe resta trabalhar e as palavras que
escutara em sua adolescência nunca se concretizaram.
Em meio ao
amadurecimento, vemos o complexo de Peter Pan que a maioria de nós tivemos na
infância. Aquele medo de crescer e ter a vida de adulto que é chata e cheia de
compromissos. Como a frase da minha maravilhosa Clarice Lispector: “ Queria ser criança, pois na infância só
me importava com joelhos machucados. ” O autor traz à tona a vida agitada
que os adultos têm e que levam com seu cotidiano acelerado a visão de pureza e
descoberta que as crianças têm. Os poetas são como crianças, tudo é descoberta.
Nada é igual. Tudo é poesia.
Há poemas tributados à
Carlos Drummond de Andrade e Manoel de Barros, poetas que marcaram a literatura
poética de nosso país e são referência ao nosso autor.
A coletânea de poemas é
dividida em duas partes no livro; a primeira é chamada de Desamassados que ao meu ver são poemas que foram jogados na lixeira
e foram resgatados pelo autor e a segunda parte chamada de Salvos pelo tempo que é a parte de poemas que foram “salvas” pelo
bom senso de David.
A segunda parte traz
poemas como Encontro Marcado que é
um poema que fala da inspiração do poeta, onde David prepara seu lar para a
chegada do poema perfeito. Toma vinho e espera uma, duas, três e muitas outras
horas e o que chega é o sono. Isso traduz que o poema chega na hora que ele
quiser e nada que o força a aparecer, como Cohen nos diz “ Não se marca encontro com poemas: eles exigem eternidade. ”
Os poemas finais trazem à
Morte como convidada e a chamam de amiga que não é convidada, mas chega para
todos. Seja para enterrar algum poema que um dia viria a ser escrito ou levar
os seres humanos ao descanso de seus corpos e a libertação de suas almas.
“ Despertar de um sonho/ é
perceber que também se morre com o abrir dos olhos. ”