[Conto/Crônica] Encontro com a Verdade

Nenhum comentário

A jovem caminhava sem rumo numa estrada que outrora fora florida e gloriosa. Agora reinava o abandono e a destruição de seu coração.

Perdida em seus mais sombrios pensamentos e tentando silenciar seus mais sinceros sentimentos, a jovem insistia em alimentar seus tormentos. Desesperava-se sem conseguir enxergar a solução em suas mãos.



Ferida e abandonada, não olhava ao seu redor. Não percebia que flores nasciam no seu já conhecido caminho. Não via que a felicidade caminhava ao seu lado.

Num dia repetitivo de sua rotina, um leve sussurro ao intrigou: Eu estou aqui! Siga-me!

Desnorteada e perplexa a jovem foi atrás daquela sedutora voz e embrenhou-se em uma estrada de terra batida e algumas saliências. Não importava que seus pés sangrassem, ela estava determinada a encontrar o dono daquela voz.


Andava sem se importar com o sol queimando seus neurônios...por que se importar com a razão quando ela não a ajudou com seus problemas emocionais? Não! Estava farta de dar ouvidos apenas a racionalidade. Naquele momento ela tinha uma fagulha de esperança que aquela voz traria boas novas.

Estava exausta, mas a determinação não a deixava desanimar ou repousar para contemplar o lugar. Porém vencida pelo cansaço a jovem descansou em uma árvore grande e maravilhosa...sentou-se embaixo de seu enorme tronco e pela primeira vez contemplou o quanto caminhara.

Agora ela enxergava que tinha deixado para traz um vale de dores que a consumiam de dia e noite. Lembrava-se que seu coração fora quebrado por promessas não cumpridas. Palavras que outro momento eram mel em seus ouvidos, agora eram fel em suas lembranças.


As lágrimas surgiram e traziam lembranças cruéis. Beijos dados e recebidos. Lábios que confessaram protege-la de tudo e todos, mesmo que ela nunca precisasse ser protegida. Não era frágil. Tinha consciência de seus momentos de fraqueza, todavia era parte de sua humanidade, porém era um bálsamo em ter alguém que a amasse e quisesse ficar do seu lado.

Essas lágrimas eram apenas pequenas derrotas de um passado que denunciava uma jovem que um dia fora imatura e não enxergou que estava numa cilada. Agora aquela voz lhe trouxera a vida.


Seus pés estavam com feridas em carne em viva, entretanto isso fazia parte da sua missão. Ela não desistiria de perseguir aquela faísca de esperança.

“- Venha até mim! Eu estou lhe esperando desde sempre! ” A mesma voz sussurrava em seus ouvidos novamente. Alimentava seu corpo que estava faminto, porém recebia forças reservas para alcançar seu objetivo naquele momento.

Depois de dois dias sem muito descanso, encontrara um pedacinho de chão que nascia uma relva verde que contrastava com a negritude e infertilidade do terreno que cercava aquela pequena reserva. Uma fonte jorrava água limpa e potável e ao seu lado estava uma senhora bem idosa e sorridente. Aquela mulher sorria e irradiava um sorriso puro e esperançoso.

Seus joelhos fraquejaram e desabaram diante aquela idosa. As lágrimas rolavam como loucas em suas bochechas rosadas do cansaço e calor. Aquela mulher emanava esperança e um sentimento novo em seu corpo. A vida recobrara seu sentido de existência e todas suas células e sentidos estavam em alerta.

“- Filha, você me ouviu. ” Aquela senhora era dona daquela voz magnífica e incentivadora que ela tanto perseguia.


“ – Sofrestes tanto para estar aqui hoje. Conheço teus sofrimentos que lhe ferem como um espinho enfiado contra seu peito. Reconheço sua coragem em tentar colar seu coração quebrado por alguém que nunca foi ensinado a amar. Sei que as feridas que causam medo e ressentimento com quem tenta conquistar sua atenção. Sei que se nega a entregar-se novamente aos meus cuidados, criança. ”

Aquela senhora era o meu maior sonho e pior pesadelo. Ela era o Amor!


Aquela mulher era a personificação de canções melosas, cartas dramáticas e romances bregas. Ela era a culpada pela dor que estavas sofrendo e que dilacerava minha vontade de viver. Como ousava sorria docilmente para minha desgraça? Como tinha audácia em dizer que conhecia minhas feridas?

“- Reconheço sua mágoa comigo. Tens o direito de me culpar por isso, mas saibas que não causo insanidade nas pessoas. Não planto dor, ódio ou discórdia nos corações humanos. Não crio caos. Eu sou a Ordem. Sou o Início e o Fim de tudo. Sou o Sentido da Existência e criada para unir vocês. Sua dor foi causada por sua falta de juízo e cegueira escolhida. Escolhestes esconder a verdade do que estar sozinha. ”


Eu estava muda. O Amor estava dizendo que eu estava culpando todos por um dor que podia ser evitada e que eu escolhera sofrer desnecessariamente. Um alívio surgiu em meu ser. Eu podia dar fim àquele sofrimento.

“- Minha criança, já conheces o início de minha visita em sua vida. Conhecestes recentemente meu presente. Não envio perfeição. Primo pela vontade de vocês em se unirem e evoluírem conjuntamente. Não vivo em apenas um coração. Conhecestes meu filho amado, Eros. Ele é a paixão e que acende e reinas em seu coração. Estás apaixonada e nega-se a viver isso pela simples negação de achar que não mereces ser feliz. ”

Naquele momento um farfalhar de folhas me trouxe o doce perfume de um jovem que entrara em minha vida há pouco tempo e trouxera alegria e momentos de felicidade plena e horas de diversão e paixão, mas eu não conhecia me entregar totalmente. Ele era tudo. Não era parte e mostrava que queria o mesmo e aquela mulher mostrava que eu apenas estava com medo. Eu podia viver aquele sentimento se rompesse com o passado.


“ – Percebo, minha criança com esse sorriso em seu rosto esperançoso que escolhestes aceitar o caminhar da vida e entregar-se ao momento e aos cuidados do meu amado filho, Eros e quem sabe futuramente a Ágape. Não esqueças que sou Afrodite ou o Amor em diversas formas. Não encontrarás um único amor, mas muitos pois os seres humanos são instáveis e a todo momento querem algo novo...porém entregue-se aos seus sentimentos e a recompensa virá. Não culpes um novo amor pelo erro de outro. ”




Comentário(s)
0 Comentário(s)

Nenhum comentário

Postar um comentário