[Resenha] A Paciente Silenciosa - Alex Michaelides

 Sinopse:

Alicia Berenson escreve um diário para colocar suas ideias em ordem. Ele é tanto uma válvula de escape quanto uma forma de provar ao seu adorado marido que está bem. Ela não consegue suportar conviver com a ideia de que está deixando Gabriel preocupado, de que está lhe causando algum mal.

Alicia Berenson tinha 33 anos quando matou seu marido com cinco tiros. E nunca mais disse uma palavra. O psicoterapeuta forense Theo Faber está convencido de que é capaz de tratar Alicia, depois de tantos outros falharem. E, se ela falar, ele será capaz de ouvir a verdade?

Enredo:

Um 25 de agosto que devia ser mais um nos sete anos de casamento de Gabriel e Alicia, mas não fora. Ela uma mulher de trinta e três anos fora encontrada com uma faca na mão e o marido amarrado numa cadeira com cinco tiros no rosto. Alicia fora presa e o dia do crime fora o último que dissera alguma coisa, após isso apenas silêncio e mais silêncio.

"[...]Lembre-se: um amor que não inclui a honestidade não merece ser chamado de amor." p.117

Ela está presa numa cadeia para pessoas com problemas psiquiátricos há longos seis anos e não falara uma única palavra sequer desde sua internação e isso tem intrigado todos que cuidam dela, principalmente porque a artista parece em uma caverna interior própria, pois não socializa com ninguém e muito menos pinta. Parece em total estado de torpor. Estado vegetativo mesmo sem problemas aparentes.

Theo Faber é um terapeuta que trabalha com alívio emocional de seus pacientes que normalmente são atormentados por seus traumas passados e seu maior desafio pessoal além de um casamento claramente por um fio, é  fazer com que Alicia Berenson abra a boca para isso ele passou por um seletivo para ser o novo terapeuta da instituição na qual Alicia está presa.

Consegui o cargo foi a parte mais simples para ele, mas a falta de colaboração das pessoas do lugar na empreitada de fazer Alicia se abrir estão dificultando algo que parece ser a missão mais importante para o dr.Theo. Sua ligação com sua paciente não parece assim tão bem definida e temos um enredo cheio de relapsos mentais de Alicia e descobertas inesperadas não somente dos eventos que antecederam o dia do assassinato de Gabriel, mas acontecimentos que tornam o quebra-cabeça mais complexo do que realmente deveria ser.

Personagens:

Ninguém nesse livro realmente é quem quis ser, pois com o desenrolar do enredo temos revelações que deixam qualquer leitor surpreso com o emaranhado de mentiras que a vida e a convivência humana pode nos proporcionar.

Alicia é uma mulher intensa e carregada de traumas insuportáveis para qualquer pessoa, mas que acabam sendo extravasados em suas pinturas que já ganharam notório reconhecimento. Filha única e sem pais, se vira nas mãos perversas de uma tia que tornou todos seus dias antes dos dezoito anos, um inferno. Quando pode ir embora, fora sem duvidar e começara uma vida mais calma e controlável e tornou-se melhor quando conheceu o fotógrafo Gabriel, na qual se apaixonou perdidamente e ambos viviam um para o outro.

" - Vou de dar um conselho. Vai para casa ficar com a sua mulher. Vai para casa ficar com Kathy, que te ama... E esquece Alicia." p.55

Gabriel é um personagem que não conhecemos por sua narração, mas pelas memórias alheias. Pela voz de seu irmão, cunhada e pelo diário de Alicia. Ele era um profissional da moda e era muito requisitado. Amava profundamente Alicia e vire e mexe tentava saber o que ela pensava e lidar com suas crises emocionais que causavam brigas constantes e foram causadoras de problemas conjugais que eclodiram em diversos acontecimentos que sustentam o dia fatídico da morte dele.  

O Dr.Faber é um homem com pouco mais de quarenta anos que parece querer um desafio em sua carreira médica e por isso tem uma obsessão pelo caso de Alicia. Quando consegue contato com ela, ele se sente poderoso e com capacidade para desvendar os mistérios mais sombrios daquela mulher que ainda exalava sua beleza e talento mesmo com aquela visão deplorável de magreza anoréxica, baba e cabelos sem pentear. Suas intenções são turvas até o final da obra quando são reveladas e culminam no plot twist. 

Desenvolvimento:

A narração é feita pelo Dr.Faber e mesclada com as páginas do diário pessoal de Alicia que dão uma visão ambígua da personagem, mas que ao mesmo tempo vão clareando fatos obscuros sobre diversos acontecimentos antes da morte de Gabriel.

O autor nos traz um narrador claramente encantado pela paciente e assim nos fazendo criar um certo distanciamento dele e começar a duvidar de qualquer pessoa que possa saber algo sobre a vida de Alicia, porque várias pessoas são entrevistadas pelo terapeuta e parecem serem muito efusivas quando falam tanto de Alicia quanto de Gabriel. Aqui temos a evidente alusão que histórias são contadas de acordo com a vontade e as intenções de quem conta os fatos, porque ela pode ou não manipular a verdade, assim condenando qualquer um a um declínio trágico.

Alicia não é louca e isso percebemos no momento que seu diário é explorado nas páginas do livro. Seu silêncio é proposital e necessário. A ausência de palavras é um enigma e somente quem se conectar de verdade com ela saberá a verdade. É claro que Dr. Faber começa a encaixar as peças dessa teia de aranha e apresentar para nós uma história marcada pelo abandono paterno, uma cuidadora nefasta e um casamento que tinha mais problemas do que momentos felizes.

Uma jogada bem característica do gênero Thriller é a mescla da investigação da trama principal com a história pessoal da pessoal que está tentando desvendar os fatos, pois assim cria-se uma distração do que é realmente está sendo evidenciado  com as pistas. Discorrer sobre o casamento do terapeuta de Alicia é um "abrir e fechar a cortina" quando se quer mostrar e ocultar fatos que influenciam na nossa falta de tato e perceber logo de cara a verdade.

 Final:

O desfecho da história chega a galope silencioso, pois quando ele vai sendo revelado, o leitor fica atordoado e tem tendência a reler as últimas páginas e procurar onde perdeu o início das revelações. Fiz isso e não acreditei que o autor soltou a "bomba" sem nem preparar o terreno.

As revelações vão sendo jogadas de uma forma que compreendemos logo as decisões de Alicia e tudo ocorreu até aquele momento. Sentimentos mudam por alguns personagens e despertaram em mim uma vontade louca de gritar pela personagem porque estava "carregando um fardo" maior do que deveria e está pagando caro por isso.

O final mostra porque o autor escolheu o diário da personagem para compreendemos a mesma, porque estávamos nos conectando em um nível íntimo com ela sem observamos e quando tudo venho as claras, não sentimos repulsa ou incompreensão por tudo, acabamos sendo submetido a uma reflexão perigosa: Será que realmente conhecemos as pessoas? Será que o amor cega nossa capacidade de análise e enxergar quando uma pessoa está nos ferindo?

A capa combina demais com o enredo e passei a leitura inteira passando os dedos nela porque a textura é do tecido de um quadro. Única ressalva é com a espessura da folha que é fina e isso dificultou o uso de marca-texto que mesmo o piloto não sendo feito para passar para a outra página, passava porque a folha era muito fina.

A Paciente Silenciosa é a evidência que o silêncio pode falar mais do que muitas palavras mesmo. 

Título: A Paciente Silenciosa
Autor: Alex Michaelides
Editora: Record
Ano: 2019
N° de Páginas: 350
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