[Resenha] A Incendiária - Stephen King

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Título: A Incendiária
Autor: Stephen King
Editora: Suma
Ano:2018
N° de Páginas: 448

Sinopse:
Uma criança com o poder mais extraordinário e incontrolável de todos os tempos. Um poder capaz de destruir o mundo. Após anos esgotado no Brasil, A Incendiária volta às livrarias como parte da Biblioteca Stephen King, coleção de clássicos do mestre do terror em edição especial com capa dura e conteúdo extra. No livro, Andy e Vicky eram apenas universitários precisando de uma grana extra quando se voluntariaram para um experimento científico comandado por uma organização governamental clandestina conhecida como “a Oficina”. As consequências foram o surgimento de estranhos poderes psíquicos — que tomaram efeitos ainda mais perigosos quando os dois se apaixonaram e tiveram uma filha. Desde pequena, Charlie demonstra ter herdado um poder absoluto e incontrolável. Pirocinética, a garota é capaz de criar fogo com a mente. Agora o governo está à caça da garotinha, tentando capturála e utilizar seu poder como arma militar. Impotentes e cada vez mais acuados, pai e filha percorrem o país em uma fuga desesperada, e percebem que o poder de Charlie pode ser sua única chance de escapar.

A Incendiária é uma obra que demonstra que King realmente é o “Rei” do suspense e não terror, porém ainda erra nos seus finais e excesso de descrição que tornam verdadeiras obras-primas em leituras cansativas.

“Só que eles não eram crianças, não estavam brincando só por brincar, e ninguém ia devolver nada a ele a Charlie quando o jogo acabasse. Aquele jogo era para sempre.” p.197

Andy McGee era um jovem quando aceitou participar de alguns testes no prédio de Psicologia na universidade que estudava para faturar duzentos dólares e assim conseguir pagar umas contas. A mesma ideia preenchia a intenção de Vicky quando aceitou esse “trabalho”. Eles se conheceram nos testes que envolviam saber as consequências do Fator X, mas nenhum dos participantes precisavam saber disso.


Quando a agulha começou a introduzir uma mistura que para todos era segura, coisas estranhas iniciaram a acontecer. Pessoas arrancavam seus olhos, outras gritavam, algumas pareciam perder a noção do real e do imaginário como Andy e Vicky que tiveram certeza que viram um dos participantes arrancar um dos seus olhos e morrer perdendo sangue, porém após algumas horas do efeito da droga foram informados que tudo era alucinação, todavia eles sentiam que algo estava sendo omitido disso tudo.


Foram os duzentos dólares mais fáceis de ganhar, porém o que custaram toda sua sanidade e saúde física, porque mesmo anos depois do experimento “poderes” surgiram em ambos, porque eles se casaram e tiveram uma linda e esperta menina chamada Charlie McGee. Vicky tinha o poder de atrair e movimentar objetos de lugares. Andy tinha o poder de manipular a mente das pessoas através de “impulsos” psíquicos que podiam ser fortes ou fracas dependendo do nível de controle mental da pessoa. Charlie também herdara o Fator X e detinha o perigosos poder de pirocinese(controle do fogo).


Por causa dessas mutações genéticas que apareceram após os experimentos do Dr. Wanless, uma entidade secreta do governo fora chamada para resolver o “problema”: A Oficina. A mesma tinha única e exclusiva função de “dar fim” em tudo que dava errado nos avanços de armas humanas para a guerra contra os “inimigos” do Estado norte-americano e nesse interim de perseguição aos participantes do experimento, é que Andy e Vicky tentavam escapar das garras frias e sem misericórdia do governo que acabaram sendo encontrados e a morte de Vicky coloca em constante fuga Andy e Charlie.


As constantes fugas de ambos colocam em risco à vida de Andy porque ele usa diariamente seu poder psíquico e que lhe causa efeitos dolorosos em sua mente e ele ainda tem que lidar com o poder incontrolável de sua filha. Quando ela está irritada – e para defender seu pai – ela joga fogo em quem estiver ao seu alcance.


A Oficina está próxima. Andy escuta os zumbidos dos motores de seu carro e sente o cheiro iminente da morte e tenta a todo custo proteger sua filha não somente dos perseguidores, mas de seu poder nefasto.

“ – Você entendeu. E o que eu disse antes continua valendo, Charlie: quando estamos em uma situação ruim, às vezes é preciso fazer coisas que nós nunca faríamos se as coisas estivessem bem.” p.107

Andy é um personagem bem complexo e traz a dualidade característica  do autor. No começo da obra temos um homem abatido e sem qualquer esperança de sobreviver e só acorda e mantém a força necessária para proteger sua filha. No meio da obra nos deparamos com uma pessoa tomada pelo ódio e pelas lembranças que surgem da morte de sua esposa e sua missão não é só proteger Charlie; ele agora quer dar um ponto em seus perseguidores e mostrar que ele não pediu para ser uma “aberração”.


Agora temos Charlene McGee – Charlie – que é uma garotinha de apenas oito anos. Você poderia deduzir que ela é ingênua, porém ela está longe disso. É impressionante a capacidade de discernir as coisas da garota. Ela é bem madura para uma criança e mais uma vez temos o surgimento de algo comum nas crianças do autor: a maturidade. Se pegamos It teremos um grupo de crianças inteligentes, sagazes e maduras se comparadas aos adultos da mesma obra. A garota aqui é a esperança e a fúria que andam lado a lado e somente esperando o momento que uma das duas vencerá e a outra será subjugada para sempre. 


Algo bem interessante nas obras do autor é sua obsessão pelos detalhes. Em obras como It temos uma extensa descrição de personagens, lugares e acontecimentos que são necessários e bem colocados nesse contexto, porém em A Incendiária temos uma queda caótica nesse ponto. Até a página 150 temos uma desenvoltura coerente ao trabalho de King, entretanto depois desse ponto encontramos uma leitura arrastada devido à concentração em pontos completamente irrelevantes na história.


A Oficina é uma instituição que trabalha secretamente para o governo norte-americano para avanços de armas – de todos os tipos – e que também tem o encargo de eliminar eventuais “problemas” nesses experimentos. A construção desses perseguidores tem uma dupla interpretação. A primeira temos uma organização pragmática e bem coordenada que trabalha com discrição para que os cidadãos não percebam sua existência – e isso é uma crítica do autor – e a segunda é o desequilíbrio dos seus administradores. O “Capitão” é um homem de anos de experiência militar e autoridade e espera por sua aposentadoria após o encerramento do caso McGee e não mede esforços para isso, todavia tem medo de John Rainbird que é um ex-veterano de guerra sem escrúpulos de 2 m que controla a todos com sua aparência desfigurada e sua boa persuasão.

“[...]Aqueles eram os dois homens que haviam matado sua esposa e roubado sua filha. Se eles não estavam acertados com Jesus, Andy sentia pena dos dois.” p.183

Alguns furos que não podem ser irrelevantes aqui são o excesso de detalhes que não acrescentam em nada no psicológico dos personagens ou no desenrolar dos fatos e o problema do desenvolvimento dos finais das obras de King. Já tinha percebido esse problema em A Pequena Caixa de Gwendy, Mr.Mercedes e Carrie, A estranha e se repetiu novamente aqui. Isso pode ser – minha hipótese – que ele se concentra demais no início das histórias e “corre” nas páginas finais e dão um “ar de desleixo” em alguns livros. 

Mesmo com esses dois pontos que me causaram desconforto temos um ponto que admiro em todo o trabalho do escritor e aqui “brilha como uma estrela”: a construção de personagens que não são nem maus e nem bons e é algo que acredito profundamente. Charlie pode ter oito anos, mas sabe muito bem o que é algo bom de algo bem ruim e quando ela queima coisa e pessoas, ela sabe que tem prazer nisso e por isso fala ao seu pai e ele se torna seu “controlador”. Já Andy vira e mexe mostra que também adora controlar as pessoas e ser o manipulador da filha, mas isso não tirava seu amor por ela e esse ponto de contraste na qual nos podemos ter tanto a “Luz” e a “Escuridão” dentro de nós, é algo que adoro em Stephen.

“[...]mais conseguia sentir o poder, uma coisa viva, ficando cada vez mais forte.”p.255

A construção gráfica é algo que merece destaque, porque a edição em capa dura é super confortável no quesito fonte, tamanho e acabamentos que vão do amarelo mostarda e o preto e só o peso que dói rs.
 

A Incendiária é uma obra que fala sobre controle governamental, dualidade entre bem o mal e a antítese entre salvar e destruir.

Nota para a obra:


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