[Resenha] A Filha do Rei do Pântano - Karen Dionne

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Título: A Filha do Rei do Pântano
Autora: Karen Dionne
Editora: Verus
Ano: 2019
N °de Páginas: 264
Onde Comprar: Amazon

Sinopse:
A fascinante história de uma mulher que deve arriscar tudo para caçar o homem que moldou seu passado e ameaça roubar seu futuro: seu pai.

Helena Pelletier tem um marido amoroso, duas filhas lindas e um negócio que preenche seus dias. Mas ela também tem um segredo: é fruto de um sequestro.

Sua mãe foi raptada quando adolescente por seu pai e mantida em uma cabana nos pântanos do Michigan. Nascida dois anos depois do sequestro, Helena amava sua casa na natureza e, apesar do comportamento às vezes brutal do pai, ela o amava também... Até perceber o quão selvagem ele poderia ser.

Vinte anos depois, ela já enterrou seu passado tão profundamente que até o marido não sabe a verdade. Mas agora seu pai matou dois guardas, escapou da prisão e desapareceu. A polícia começa uma caçada, e Helena sabe que não irão descobrir nada, pois apenas uma pessoa, treinada por ele mesmo, tem as habilidades para encontrar o sobrevivente que o mundo chama de Rei do Pântano. E essa pessoa, claro, é Helena.
A Filha do Rei do Pântano é um thriller que nos  desperta uma sensação de desconforto psicológico e emocional que nos leva a refletir sobre o que é verdade e suas projeções manipuladas pelas nossas lembranças e visão dos outros.
1. O Enredo:

Helena Pelletier teve uma infância aparentemente normal. Ela vivia no meio de um pântano juntamente com seu pai e sua mãe. Ela caçava como um homem das cavernas. Era seu pai que ensinava como afiar um machado, uma faca ou qualquer coisa que servisse como uma lança para pegar uma presa.

A garota era inquieta e não se sentia de forma alguma confortável em tarefas domésticas. Ela sempre fugia de auxiliar sua mãe. Helena não via sua mãe com bons olhos. Para a pequena garota a mãe era o símbolo da submissão e da apatia. Sua aceitação e silêncio constante era perturbador para a personalidade dominante e autoritária da menina e por isso seus momentos de felicidade infantis são todos ligados ao pai. Ele era seu herói. Era o homem enorme e nativo americano que impunha não somente respeito, mas medo algo que ele utilizava constantemente com a esposa e com sua própria filha.

Você pode achar que tudo é perfeito e normal, porém está errado. A infância de Helena era apenas uma farsa. Sua mãe não era uma mulher livre. Ela não sem vida ou submissa. Ela era uma prisioneira. Ela fora sequestrada e sua liberdade perdida. O monstro que a acorrentava ao seu jugo era nada mais que o pai da pequena. O homem que ela amava era o carrasco de sua mãe e o pesadelo da jovem no momento que saíram do pântano.

2. Helena Adulta

Anos se passaram após a saída do pântano e Helena agora é casada e tem duas filhas lindas que ela as batizou com os nomes das flores que mais amava na infância. Sua adaptação a sociedade fora dolorosa e lenta. Sua fúria e gênio autoritário acabaram colocando-a em situações constrangedoras e horríveis e sua convivência com a mãe foram piorando até que a mãe morrera sem ser compreendida pela filha.

A jovem mãe agora mora apenas alguns quilômetros do velho pântano, no Michigan, na qual morara ao lado de seus pais. Ela enterra seu passado com seu antigo sobrenome. Hoje ela era uma empreendedora que vendia geleias de mirtilos na cidade e assim ajudava nas contas da casa e vivia com segurança ao lado de sua nova família.

Helena ainda está longe de viver em paz com tudo que acontecera. Sente-se mal pela sua péssima convivência com sua mãe e seus sentimentos contraditórios com pai e esse que ela decidira nunca visitar na prisão, mas algo acontece e muda completamente sua vida de tranquilidade: Seu pai fugira da prisão e está atrás dela e sua família e apenas ela é capaz de caça-lo.

Antes ela era a caça. Agora é sua vez de caçar. Sua última caçada.
3. A Narrativa

O enredo todo é narrado em primeira pessoa. Helena é nossa narradora. Sua mente é um caos total.

Já imaginou entrar na mente de alguém que parece psicologicamente desequilibrado? Já imaginou vê a história de Psicose segundo o olhar de Norman Bates?Então, nossa protagonista é emocionalmente instável e psicologicamente perturbada. Sua convivência com o pai acabou a transformando em uma cópia quase perfeita de seu progenitor.

A narrativa é intercalada entre presente e passado. No presente ela é uma mãe que vive tentando se entender com a maternidade e as regras sociais, nas quais foram isoladas com a vida no pântano. No passado ela era a querida do pai, a princesa do pântano e a menina que vivia livre numa selva particular e tinha perigos mortais e não um mundo cheio de regras e pessoas a julgando.

O tipo de narrador escolhido é proposital e pode causar um desconforto extremo no leitor, porque Helena não é equilibrada e em diversos momentos traz memórias que tornam o pai um herói e isso é algo que ele nunca foi, entretanto é isso que torna um dos thrillers psicológicos mais marcantes que já li.
4. Os Personagens

Helena é uma personagem que de forma alguma desperta conexão com os leitores. Por ela ser a narradora acabamos a conhecendo com profundidade e uma perturbação constante nos acompanha na leitura.

Ela foi criada pelo pai para ser semelhante a ele e isso é evidente em suas lembranças da infância e juventude quando estava diante de sua mãe e a desobedecia e a magoava sem medo. Seu comportamento não apenas autoritário, mas tirânico. Sua apatia com o comportamento da mãe diante seu raptor não mudara com a descoberta que seu pai era um psicopata e isso quebra qualquer chance de a entendemos.

"Não era adoração, mas chegava perto. Eu era descaradamente, absolutamente e completamente apaixonada pelo meu pai." p.75
Se pai, o Rei do Pântano, é um nativo americano de pele acobreada e de uma estatura enorme com músculos fortes e uma mente completamente psicótica. Na infância e juventude mostrara sua incapacidade de convivência social e por isso criara um próprio reino para si: O Pântano.

Não pense que ele era fruto de uma família perturbada. Não!Seus pais foram autoritários e gananciosos, mas nada que o tornasse um monstro sem sentimentos. Ele não amava ninguém além de si mesmo. Ele era narcisista e egocêntrico. Helena não era sua filhinha querida. Era apenas uma extensão do seu reino e domínio e sua esposa, um empecilho a ser quebrado.
"As cicatrizes que meu pai deixou na minha mãe, claro, foram muito mais profundas." p.137
A mãe de Helena é pouco explorada no enredo, porque no início a narradora nos reforça que a história era dela e não dos pais, entretanto durante o decorrer dos acontecimentos percebemos sua preferência pelo pai e sua incapacidade de entender a dor da mãe.

O marido e as filhas não sabem a verdade sobre ela e por isso apenas são citados nas memórias de Helena e quando estão sendo caçados pelo Rei do Pântano.

5. O Desfecho

A obra não foi feita para ser apreciada pelo final. Todo livro encaixado nesse subgênero do Suspense tende a focar nos personagens e não no final ou plot twist. Quem adora as inúmeras reviravoltas de romances policiais deve entender que aqui é o psicológico que será explorado a cada página, porque o desfecho começa na mente dos personagens e não quando chegamos a última página.

Todas as lembranças de Helena são assustadoras. Ela tinha uma ótica diferente do pai. Ela o via como um rei soberano que a amava incondicionalmente e pensava que sua mãe não a queria de forma alguma. Quando ela percebe a verdade, já perdeu a mãe e está ameaçada de perder a nova família. O final é a junção de todas suas escolhas sejam erradas ou certas.

6. Temas Explorados

A psicopatia, narcisismo, complexo de Édipo, sequestro, consequências psicológicas sob vítimas de abusos físicos e psicológicos e manipulação são temas explícitos em todo o livro.

A autora traz isso de forma equilibrada, saudável e bem autêntica porque é uma vítima disso tudo que narra e não um policial ou detetive que julgaria de forma fria tudo que ocorreu. A precisão médica é louvável, porque a autora teve uma longa jornada de psicólogos, psiquiatras, neurologistas, agentes de polícia e vítimas de sequestro para montar todo o ambiente da história e a construção dos personagens.
7. Parte Física do Livro

O destaque da obra é a capa que traduz bastante o antigo lar de Helena e seus conflituosos pais e dar aquela sensação de desconhecido e mortal.

A fonte é adequada para a qualquer leitor e as folhas amareladas e com divisão de vinte e oito capítulos.

A Filha do Rei do Pântano é um thriller incomum, apavorante, mas impossível de ser deixado de lado.

8. Sobre a autora
Karen Dionne é a autora mais vendida internacionalmente no USA Today e The Marsh King's Daughter, um romance obscuro de suspense psicológico publicado pelos filhos de GP Putnam nos EUA e em 25 outros idiomas.

Karen é cofundadora da comunidade de escritores on-line Backspace e membro da International Thriller Writers, onde atuou no conselho de diretores. Ela foi homenageada pelo Michigan Humanities Council como bolsista de humanidades e vive com o marido nos subúrbios ao norte de Detroit. 

Já conheciam A Filha do Rei do Pântano? Gostam de Thrillers Psicológicos?









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